Pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) descobriram, a partir de fragmentos de placenta humana, uma molécula chamada laminina, capaz de estimular a regeneração de neurônios. O estudo levou ao desenvolvimento do medicamento experimental Polaminina, criado em parceria com o laboratório farmacêutico Cristália.
Segundo informações da revista ‘Veja’, o fármaco vem sendo testado desde 2018 em seis pacientes com lesões completas na medula espinhal (nível A), condição em que há perda total de movimentos e sensibilidade. O tratamento é aplicado diretamente na medula, em doses mínimas, até seis dias após o trauma.
Como funciona a laminina
A molécula está presente em diferentes organismos, até mesmo em esponjas marinhas, e desempenha papel essencial na sobrevivência celular. De acordo com a professora Tatiana Coelho de Sampaio, responsável pelas pesquisas:
“É uma molécula de funções primitivas. Por ser tão onipresente e necessária desde os estágios mais primitivos da vida, deveria ser mais observada e valorizada”.
Além de proteger neurônios já existentes, a laminina estimula a formação de novas células. “Com ela, conseguimos um efeito duplo: neuroproteção e regeneração”, completa Sampaio.
Resultados iniciais
Dos seis voluntários acompanhados desde 2018, cinco recuperaram movimentos parciais, avançando do nível A para o nível C.
Um dos casos mais emblemáticos é o do analista Bruno Drummond, que perdeu os movimentos após fraturar a coluna em um acidente de trânsito.
“No primeiro mês pós medicação, o efeito foi sutil: consegui mexer o dedão do pé. Mas aquilo não me parecia grande coisa. Nessas horas, as expectativas são muito baixas”, relatou Drummond em coletiva de imprensa.
Hoje, Bruno consegue andar e movimentar os braços quase por completo. Segundo Sampaio, a rápida aplicação do fármaco e o início precoce da fisioterapia foram fundamentais para o resultado.
Pacientes crônicos também registram avanços
Embora a aplicação precoce mostre maior eficácia, há relatos de progresso em pacientes com lesões antigas.
A atleta Hawanna Cruz, por exemplo, sofreu um acidente em 2017 e iniciou o tratamento três anos depois. Mesmo assim, conquistou autonomia para dirigir sua cadeira de rodas e passou a integrar a seleção brasileira de rugby em cadeira de rodas.
O medicamento experimental foi desenvolvido por pesquisadores da UFRJ:

Efeitos colaterais e limitações
De acordo com os pesquisadores, não foram observados efeitos adversos relacionados diretamente ao medicamento. Sintomas como dores de cabeça e constipação apareceram, mas foram atribuídos às próprias lesões.
Ainda restam dúvidas sobre aspectos como dosagem ideal, tempo de duração dos efeitos e a possibilidade de uso repetido. Por isso, a equipe ressalta que o estudo, com poucos participantes, ainda é considerado experimental.
Próximos passos e aprovação da Anvisa
O Polaminina precisa passar pelas etapas regulatórias da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) antes de ser disponibilizado. O próximo estágio é a fase 1 dos ensaios clínicos, com foco na segurança da substância.
Em nota, a Anvisa informou:
“Embora os resultados de laboratórios sejam promissores, ainda não é possível fazer qualquer afirmação quanto a segurança e eficácia da substância. Este é um processo normal quando se trata da avaliação de novos medicamentos.”
A previsão é que, se aprovado em todas as etapas, o medicamento possa estar disponível em cerca de três anos. Hospitais como o Hospital das Clínicas e a Santa Casa de São Paulo já têm contratos pré-aprovados para participar da pesquisa clínica.