A brasileira Marina Lacerda, hoje com 37 anos, relatou nesta quarta-feira (3) ter sido vítima do empresário americano Jeffrey Epstein. Segundo ela, os abusos começaram em 2002, quando tinha apenas 14 anos e vivia em Nova York com a mãe e a irmã.
Durante uma coletiva de imprensa nos Estados Unidos, Marina pediu que o Congresso aprove uma lei que obrigue a divulgação de todos os documentos relacionados ao caso. Para ela, a abertura total dos arquivos pode contribuir para que vítimas consigam se recuperar.
“Há partes da minha própria história que não consigo lembrar, por mais que eu tente”, afirmou. “Há pessoas por aí que sabem mais sobre meu abuso do que eu. O governo tem documentos que poderiam me ajudar a lembrar e a me curar”.
Infância marcada por trabalho e promessas falsas
Recém-chegada aos EUA, Marina dividia um quarto no bairro do Queens com a família e conciliava três empregos para ajudar em casa. Foi nesse contexto que conheceu Epstein, apresentada por uma conhecida como uma suposta oportunidade de trabalho.
“Uma amiga minha do bairro me disse que eu poderia ganhar US$ 300 para fazer uma massagem em um cara mais velho”, contou. “Isso passou de um emprego dos sonhos para o pior pesadelo”.
Segundo o depoimento, os abusos duraram cerca de três anos, até Epstein perder o interesse quando ela tinha 16 ou 17 anos, alegando que estava “velha demais”.
Participação em investigações e depoimento decisivo
Marina explicou que abandonou os estudos durante a adolescência para trabalhar na casa do empresário, acreditando que isso poderia abrir portas no futuro.
“Eu pensava que, se eu apenas jogasse o jogo, não seria mais só essa imigrante do Brasil, e teria algo a esperar do futuro”, declarou.
Identificada como “Vítima menor 1” na acusação formal contra Epstein em 2019, a brasileira forneceu informações consideradas cruciais para a prisão do bilionário.
Ela ainda relatou que, em 2008, chegou a ser procurada pelo FBI, mas não teve seu depoimento levado em consideração devido a um acordo judicial firmado por Epstein. Apenas em 2019, com a reabertura das investigações, pôde prestar depoimento.

Pressão por transparência no Congresso dos EUA
A coletiva de imprensa foi organizada pelos deputados Thomas Massie (republicano) e Ro Khanna (democrata), que, apesar das diferenças partidárias, defendem a votação de um projeto de lei para liberar documentos confidenciais relacionados ao caso.
O objetivo é garantir que arquivos mantidos pelo FBI e por procuradores federais sejam divulgados. Segundo os parlamentares, a transparência é fundamental para atender às vítimas e fortalecer a confiança pública.
Caso Epstein e conexões políticas
Jeffrey Epstein foi acusado de aliciar dezenas de meninas menores de idade entre 2002 e 2005. Em 2008, firmou um acordo judicial e se declarou culpado, mas voltou a ser preso em 2019 por tráfico sexual.
Dias depois, foi encontrado morto em sua cela, em circunstâncias apontadas como suicídio pelas autoridades.
O caso também gerou repercussões políticas. Durante a campanha de 2024, o então candidato Donald Trump prometeu divulgar nomes ligados à rede de exploração sexual.
Alguns documentos chegaram a ser publicados em fevereiro, incluindo registros de voos com o nome do presidente. Epstein e Donald Trump foram próximos nos anos 1990. Trump, no entanto, não é investigado nesse caso.
Mais recentemente, o Departamento de Justiça dos EUA afirmou que não existe nenhuma “lista de clientes” entre os arquivos da investigação, o que gerou insatisfação entre apoiadores republicanos que exigem transparência total.