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Implanon no SUS reforça autonomia feminina e marca avanço histórico na saúde pública

SUS vai oferecer Implanon gratuitamente a partir de 2025 distribuindo 500 mil unidades este ano e 18 milhões até 2026 reforçando autonomia feminina

Quando o Sistema Único de Saúde (SUS) anunciou a incorporação do Implanon, implante subdérmico de etonogestrel com eficácia superior a 99%, o anúncio trouxe mais do que uma novidade técnica. Era também um gesto de política pública, um avanço na autonomia reprodutiva e no direito à escolha das mulheres brasileiras.

Serão 500 mil unidades distribuídas ainda em 2025 e 1,8 milhão até o fim de 2026, com investimento de R$ 245 milhões. O gesto vai muito além do custo: ele representa tempo devolvido, ciclos reorganizados e liberdade garantida, especialmente para mulheres que nunca puderam bancar esse tipo de contracepção.

A decisão partiu da Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS), após pedido do Ministério da Saúde. A iniciativa ainda se alinha a metas globais, como a dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que visam reduzir em 25% a mortalidade materna geral e em 50% entre mulheres negras até 2027.

O que é o Implanon e por que ele importa

O Implanon é um pequeno bastão inserido sob a pele do braço, responsável por liberar gradualmente o hormônio etonogestrel, que inibe a ovulação por até três anos. Sua eficácia ultrapassa 99%, com taxa de falha menor que a de métodos como o DIU hormonal ou até a vasectomia.

Além da eficácia, ele dispensa o uso diário, consultas frequentes ou monitoramento intenso. Um método simples, discreto e de longa duração. Na rede privada, o procedimento pode custar entre R$ 2 mil e R$ 4 mil, o que o torna inacessível para grande parte da população brasileira.

Caminhos da implantação e cenários prioritários

Com a portaria já encaminhada, a expectativa é que a implementação total ocorra em até 180 dias, incluindo:

  • Revisão dos protocolos clínicos

  • Aquisição e distribuição dos implantes

  • Treinamento das equipes de saúde nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs)

O procedimento de inserção será feito por enfermeiras e médicos habilitados, e a remoção ao fim dos três anos seguirá critérios similares. A Secretaria de Atenção Primária à Saúde irá priorizar áreas com altos índices de gravidez na adolescência e mortalidade materna, especialmente entre mulheres negras e periféricas.

Autonomia feminina em pauta: quem mais se beneficia

Disponibilizado sem custo para todas as mulheres em idade reprodutiva (até 49 anos), o Implanon representa uma ferramenta concreta de liberdade e planejamento. Para aquelas que precisam adiar a maternidade por motivos profissionais, acadêmicos ou pessoais, o método oferece segurança e praticidade.

Segundo a secretária Ana Luiza Caldas, em entrevista à Rádio Senado, “trata-se de uma ampliação simbólica e real das escolhas femininas”. O método também atende mulheres que enfrentam dificuldades com anticoncepcionais orais, como efeitos colaterais ou falta de adesão por esquecimento.

Entre adolescentes em situação de vulnerabilidade, o impacto pode ser decisivo: o Brasil ainda registra uma média preocupante de 18% de gestações entre jovens de 15 a 19 anos. Esse novo acesso pode mudar essas estatísticas de forma drástica.

Uma política pública que responde a desigualdades históricas

A chegada do Implanon ao SUS é também uma resposta direta ao racismo estrutural na saúde, à exclusão biomédica e à desigualdade de acesso. A iniciativa busca oferecer para todas as mulheres aquilo que, durante anos, foi privilégio de poucas.

O SUS reforça, com essa medida, sua missão como agente de equidade e promotor de direitos humanos. Em um país onde mulheres negras são as que mais morrem durante o parto e as que menos têm acesso à saúde reprodutiva de qualidade, esse movimento tem potência reparadora.

Desafios de uma implantação ampla e eficaz

Mesmo com a decisão histórica, ainda existem obstáculos práticos:

  • Capacitação desigual das equipes, principalmente em regiões remotas ou periféricas

  • Falta de estrutura logística para garantir a inserção, manutenção e remoção dos implantes

  • Desinformação e mitos sobre métodos hormonais de longa duração, que podem limitar a aceitação

  • Registros clínicos incompletos ou falhos, que prejudicam o acompanhamento e as estatísticas

Especialistas alertam que a eficácia dessa política dependerá da gestão local e da comunicação transparente com as usuárias.

Histórias reais, escolhas reais

O impacto dessa política pública pode ser medido nas histórias de milhares de mulheres brasileiras. Cada Implanon inserido significa:

  • Uma jovem que continua estudando sem medo de engravidar

  • Uma mãe solo que ganha mais segurança para planejar seu futuro

  • Uma mulher que enfrenta menos efeitos adversos do que com anticoncepcionais orais

  • Uma trabalhadora rural que pode confiar num método que não exige visitas constantes ao posto

Para a pediatra Ana Paula Noronha, “é como entregar às mulheres uma bússola para escolher o próprio rumo, sem que o Estado as empurre para caminhos que não desejam”.

Conclusão: saúde, dignidade e liberdade

Mais do que a oferta de um novo método contraceptivo, a chegada do Implanon ao SUS representa o fortalecimento do pacto entre Estado e cidadãs brasileiras. Trata-se de um movimento em direção a um país onde todas possam escolher quando e se querem ser mães.

Essa política pública fala de autonomia, justiça social, saúde preventiva e respeito aos ciclos femininos. É a prova de que quando o Estado escuta, planeja e age, transforma a vida real de milhões — sem estardalhaço, mas com profundidade.

O Implanon, em sua simplicidade, traz consigo o potencial de mudar histórias. E o SUS, ao incorporá-lo, reafirma que a dignidade feminina não é luxo — é prioridade.

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