Na tarde do dia 4 de julho, o corpo de Juliana Marins, brasileira morta após uma queda no vulcão Rinjani, na Indonésia, foi sepultado em Niterói (RJ). A cerimônia, que reuniu amigos e familiares no Cemitério Parque da Colina, foi marcada por silêncio, emoção e uma decisão difícil: embora a Justiça tivesse autorizado a cremação, a família optou por enterrá-la. O motivo? Manter a possibilidade de uma nova autópsia e exumação futura, caso as investigações avancem.
Juliana, de apenas 27 anos, era publicitária e vivia um momento de descobertas pessoais e profissionais. Sua morte trágica em meio a uma trilha no exterior comoveu o país, e o caso ganhou contornos de mistério e questionamentos que ultrapassam a dor do luto.
Justiça havia autorizado cremação, mas família recuou
A decisão de não cremar o corpo foi anunciada poucas horas antes do sepultamento, surpreendendo parte da imprensa e do público que acompanhava o caso. A Justiça, por meio da Vara de Registros Públicos do Rio, havia concedido autorização formal para a cremação no dia 3 de julho, atendendo ao pedido da irmã de Juliana, Mariana Marins.
No entanto, a família reconsiderou. Segundo o pai da jovem, Manoel Marins, a escolha pelo sepultamento foi feita por precaução. “A gente precisa preservar qualquer chance de buscar a verdade sobre o que aconteceu com a minha filha”, afirmou, visivelmente emocionado.
Velório discreto e cerimônia reservada
O velório foi dividido em dois momentos: nas primeiras horas da manhã, o espaço foi aberto ao público, permitindo homenagens de amigos e pessoas que acompanharam a história à distância. A partir do meio-dia, apenas familiares e amigos íntimos permaneceram. O sepultamento ocorreu por volta das 15h, em clima de comoção e reverência.
A família pediu que a imprensa respeitasse o momento, evitando gravações e fotos durante a cerimônia. Muitos dos presentes carregavam flores brancas, símbolo de paz e justiça.
Morte durante trilha no exterior levanta suspeitas
Juliana desapareceu no dia 20 de junho durante uma trilha no Monte Rinjani, um dos principais vulcões ativos da Indonésia. Ela havia saído com um grupo local para subir a montanha, mas se separou em determinado ponto do trajeto. Após dias de buscas, seu corpo foi localizado em uma área de difícil acesso.
A primeira versão oficial divulgada pelas autoridades indonésias apontava que ela havia sofrido uma queda acidental. Contudo, a ausência de detalhes sobre a hora da morte, falhas no resgate e a divulgação do laudo antes mesmo da chegada da família ao país geraram desconfiança.
Nova autópsia foi realizada no Brasil
Diante da repercussão e da comoção, a família solicitou uma nova autópsia ao chegar ao Brasil. O exame foi realizado no Instituto Médico Legal (IML) do Rio de Janeiro, com a presença de representantes da Polícia Federal, da Defensoria Pública da União e de um perito particular contratado pela família.
Os primeiros resultados apontam politraumatismos compatíveis com uma queda de grande altura, mas ainda restam dúvidas sobre a cronologia exata do acidente. A estimativa dos peritos brasileiros é de que Juliana tenha sobrevivido por até 32 horas após o acidente, o que levanta novos questionamentos sobre a agilidade e a eficiência do resgate.
Enterro pode permitir reexame futuro
A decisão pelo sepultamento não foi apenas simbólica. Do ponto de vista jurídico e técnico, ela permite que, se necessário, o corpo possa ser exumado futuramente para a realização de exames complementares. A cremação, por sua natureza irreversível, inviabilizaria essa possibilidade.
Essa escolha revela o compromisso da família em buscar respostas completas. Mesmo diante do sofrimento, a prioridade é garantir que todos os caminhos possíveis de investigação permaneçam abertos. Segundo a irmã Mariana, “não queremos que o caso da Juliana seja arquivado sem todas as perguntas respondidas”.
Busca por justiça continua
A Defensoria Pública da União, em conjunto com a Advocacia-Geral da União, acompanha o caso de perto e já solicitou a abertura de um inquérito na esfera federal. A Polícia Federal também foi acionada para apurar eventuais negligências das autoridades indonésias, inclusive em relação à comunicação com a família brasileira e aos protocolos de resgate.
Além disso, o caso levantou discussões sobre a necessidade de protocolos mais claros para desaparecimentos e mortes de brasileiros no exterior, e a tramitação de uma proposta legislativa inspirada na história de Juliana já está em andamento no Congresso.
Mais que um enterro, um marco na luta por clareza
O enterro de Juliana Marins não encerra sua história. Pelo contrário: marca o início de uma nova fase na luta por respostas. Uma fase em que o luto caminha lado a lado com a persistência e a exigência de justiça.
Enquanto familiares e amigos depositavam flores sobre o túmulo em Niterói, era possível sentir no ar algo além da tristeza: havia também uma força silenciosa, uma promessa de que a busca não será interrompida tão cedo.
Juliana agora descansa, mas sua memória seguirá como símbolo de uma sociedade que não deve aceitar o silêncio onde há dúvida.