O primeiro-ministro do Nepal, KP Sharma Oli, anunciou nesta terça-feira (9) sua renúncia em meio à escalada de protestos que tomaram as ruas do país. A decisão ocorreu após manifestantes invadirem e incendiarem o complexo do Parlamento e residências de ministros em Catmandu, em meio à crise desencadeada pelo bloqueio de redes sociais como Facebook e Instagram.
“Renunciei ao cargo de primeiro-ministro com efeito a partir de hoje (…) a fim de dar novos passos em direção a uma solução política e à resolução dos problemas”, declarou Oli em carta encaminhada ao presidente Ram Chandra Paudel, que aceitou a saída e iniciou o processo de escolha de um novo premiê.
Protestos contra bloqueio de redes sociais
As manifestações começaram após o governo impor restrições a plataformas digitais, sob o argumento de combater notícias falsas, discurso de ódio e crimes online. No entanto, a medida gerou forte reação da população, já que cerca de 90% dos 30 milhões de nepaleses utilizam a internet.
Nas ruas, cartazes e slogans pediam: “Fechem a corrupção, não as redes sociais” e “Desbloqueiem as redes sociais”. A repressão policial na segunda-feira (8), que utilizou gás lacrimogêneo, balas de borracha e cassetetes, resultou em 19 mortos e mais de 100 feridos, segundo autoridades locais.
Escalada da violência em Catmandu
O ápice da crise ocorreu nesta terça-feira (9), quando centenas de manifestantes incendiaram o edifício do Parlamento, de acordo com o porta-voz governamental Ekram Giri:
“Centenas de pessoas invadiram o recinto do Parlamento e incendiaram o edifício principal”, afirmou à ‘AFP’.
Além do Legislativo, casas de ministros e até mesmo a residência de Oli foram atacadas no bairro de Bhaisepati. A mídia local informou que alguns políticos foram resgatados por helicópteros militares, enquanto imagens aéreas mostravam colunas de fumaça espalhadas pela capital.
A Suprema Corte também foi alvo de incêndio, segundo registros da agência ‘Reuters’.

Toque de recolher e novos protestos pelo país
Diante da escalada, o governo decretou toque de recolher em áreas estratégicas de Catmandu, incluindo a sede do gabinete do premiê e a residência presidencial. A polícia recebeu ordem para usar canhões de água, balas de borracha e cassetetes contra os manifestantes.
Apesar da repressão, protestos também foram registrados em Biratnagar, Bharatpur e Pokhara, ampliando a crise política no país, já considerado um dos períodos mais instáveis desde a abolição da monarquia em 2008.
Crise política e instabilidade
O Nepal, situado entre a Índia e a China, enfrenta agora uma de suas piores crises em décadas. A saída de Oli ocorre em meio a críticas por corrupção e promessas não cumpridas, segundo opositores.
A repressão aos protestos e o bloqueio das redes sociais refletem um movimento observado em outros países, que buscam regular big techs e plataformas digitais. No entanto, críticos alertam que tais medidas podem restringir a liberdade de expressão, enquanto autoridades defendem maior controle para preservar a ordem social e a segurança nacional.
O Nepal é comunista?
O Nepal é governado atualmente por partidos de orientação de esquerda. Desde a queda da monarquia em 2008, o país se tornou uma república federal e multipartidária, mas a política tem sido dominada por legendas comunistas.
O principal grupo é o Partido Comunista do Nepal (Marxista-Leninista Unificado), conhecido como CPN-UML, ao qual pertence KP Sharma Oli, que já exerceu o cargo de primeiro-ministro em diferentes mandatos.
Outro partido influente é o Partido Comunista do Nepal (Maoísta-Centro), que liderou a insurgência armada nos anos 1990 e 2000 e também já integrou governos.
Apesar disso, o Nepal não é um Estado comunista no sentido clássico. O sistema é democrático, multipartidário e parlamentarista, com eleições regulares, mas com forte presença de partidos comunistas na cena política.
País do Himalaia marcado por instabilidade política e fragilidade econômica
Confira:
🇳🇵‼️ÚLTIMAS NOTÍCIAS: O escritório da mídia falsa Kantipur Publications, a maior empresa editorial do Nepal usada pelo regime comunista como jornais de manipulação de informações em massa foi incendiado em meio a protestos em andamento. pic.twitter.com/biEsjBOhfj
— Conservatism And Elegance 🇺🇲 (@ThayzzySmith) September 9, 2025