Um novo termo vem ganhando espaço no vocabulário corporativo: workslop. A expressão, criada por pesquisadores da Universidade de Stanford (EUA), descreve “conteúdo gerado por IA que se disfarça como um bom trabalho, mas carece de substância necessária para de fato impulsionar uma tarefa”.
De acordo com o artigo publicado na Harvard Business Review, a prática está se tornando comum em empresas que adotam o uso compulsório de ferramentas de inteligência artificial para acelerar processos, mas o efeito pode ser o oposto do desejado.
IA pode estar minando a produtividade
Segundo o estudo, muitos funcionários têm utilizado IA para tarefas que poderiam realizar melhor sozinhos, atendendo a exigências de gestores ansiosos por demonstrar o retorno dos investimentos em tecnologia.
O resultado é um aumento no volume de conteúdos superficiais e improdutivos, que aparentam eficiência, mas geram retrabalho e confusão interna.
A pesquisa conduzida por equipes de Stanford e do BetterUp Labs aponta que 41% dos trabalhadores já se depararam com algum tipo de workslop.
Em média, cada ocorrência gera duas horas de retrabalho, afetando diretamente a produtividade, a confiança e a colaboração entre colegas.
O impacto no ambiente corporativo
O fenômeno não é novo — relatórios cheios de jargões vazios como “empowerment” e “disrupção” sempre existiram. Mas com a popularização da IA generativa, o problema ganhou uma nova dimensão.
O diretor do Stanford Social Media Lab, Jeffrey Hancock, relata o caso de um gerente que recebeu um e-mail automatizado de sua supervisora:
“Tive que me esforçar para fazer algo que deveria ter sido responsabilidade dela, o que atrapalhou meus outros projetos em andamento”, disse o executivo.
Entre os 1.150 profissionais entrevistados, 40% afirmaram ter recebido recentemente um exemplo de workslop de um colega — e o problema não se limita à base operacional.
Muitos gerentes também disseminam relatórios e mensagens genéricas, ampliando a sensação de ineficiência organizacional.

O custo oculto do “trabalho de fachada”
Além do desgaste emocional, o workslop traz prejuízos financeiros significativos. Cada ocorrência gera um custo estimado de US$ 186 mensais por funcionário, o que representa uma perda anual de US$ 9 milhões (cerca de R$ 48 milhões) em uma empresa com 10 mil colaboradores.
Os autores alertam que, embora as companhias invistam pesado em softwares de IA buscando eficiência e inovação, podem estar sem perceber alimentando o retrabalho e a desorganização interna.
Como evitar o workslop nas empresas
Para os pesquisadores, a solução não está em banir a IA, mas em educar os funcionários sobre o uso responsável da tecnologia.
O estudo recomenda criar uma espécie de “alfabetização em IA”, que ajude os profissionais a entender quando o uso da ferramenta é realmente adequado.
Entre as orientações principais estão:
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Tratar a IA como um estagiário não treinado, revisando sempre os resultados antes de utilizá-los;
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Definir claramente quando a IA deve ser usada, evitando que ela substitua o raciocínio humano;
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Usar a IA para aprimorar o trabalho, e não para criá-lo do zero;
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Aprimorar a comunicação interpessoal, já que mensagens automatizadas e genéricas minam a confiança e o respeito entre equipes.
Os autores reforçam: “Quando os líderes organizacionais defendem a IA em todos os lugares o tempo todo, eles modelam uma falta de discernimento em como aplicar a tecnologia”.
O estudo da Universidade de Stanford serve como um alerta: o uso indiscriminado da inteligência artificial pode estar criando um novo tipo de ineficiência — o workslop.
Segundo a pesquisa, para evitar esse desperdício de tempo e energia, as empresas precisam equilibrar inovação com discernimento, garantindo que a tecnologia seja aliada da produtividade, e não seu oposto.