Em mais um movimento político que reacende tensões diplomáticas, o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, usou sua plataforma Truth Social para fazer um apelo direto às autoridades brasileiras: “Deixem Bolsonaro em paz”. A declaração foi feita na esteira do julgamento que Jair Bolsonaro enfrenta no Supremo Tribunal Federal (STF), acusado de envolvimento em tentativa de golpe de Estado após o segundo turno das eleições de 2022.
A frase ganhou repercussão internacional não apenas pelo conteúdo, mas por vir acompanhada de uma crítica ao sistema judicial brasileiro, descrito por Trump como “corrompido” e “instrumentalizado para perseguição”. Para o ex-presidente americano, o julgamento de Bolsonaro é uma “caça às bruxas”, semelhante à que afirma ter sofrido em seu próprio país.
Processo no STF avança enquanto aliados se mobilizam
Bolsonaro responde a uma ação penal que reúne acusações de formação de organização criminosa, tentativa de golpe e abolição violenta do Estado de Direito. A investigação, conduzida pelo ministro Alexandre de Moraes, já coletou depoimentos, documentos e mensagens que apontam articulação de militares e civis para impedir a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva.
O ex-presidente, até então em silêncio sobre o processo, passou a compartilhar publicações de Trump em suas redes, agradecendo o apoio “de um líder que conhece bem as injustiças de perseguições políticas”. Para sua base, a manifestação do norte-americano serve como munição para o discurso de vitimização e resistência.
Lula rebate e reafirma soberania brasileira
O presidente Lula, que está à frente da presidência rotativa do BRICS, respondeu à declaração sem citar diretamente o nome de Trump. Em evento oficial no Rio de Janeiro, foi categórico: “O Brasil é um país soberano. Não aceitamos interferência de ninguém, muito menos em nossas instituições jurídicas”.
Outros membros do governo reforçaram o tom. O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, afirmou que o Judiciário brasileiro age com total independência, e que decisões são tomadas com base em provas, não em pressões externas. Já a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, classificou o gesto de Trump como “um ataque inaceitável à soberania nacional”.
Mercado reage e diplomacia se agita
Embora a declaração de Trump não tenha impacto direto em decisões jurídicas, ela gerou repercussões econômicas e diplomáticas. A tensão entre os dois países aumentou após rumores de que aliados do ex-presidente americano estariam articulando sanções comerciais contra o Brasil, sob o argumento de violação de direitos políticos.
No mercado financeiro, a incerteza sobre o ambiente político brasileiro pressionou o câmbio e gerou instabilidade nas ações de empresas estatais. O Itamaraty, por sua vez, evitou comentar diretamente o episódio, mas reafirmou, em nota oficial, que “nenhuma potência estrangeira terá o direito de tutelar decisões do Estado brasileiro”.
Bolsonaro vê reforço político no apoio de Trump
Nos bastidores, interlocutores de Bolsonaro comemoraram a declaração de Trump como uma “virada de narrativa”. Avaliam que a fala do ex-presidente americano resgata a polarização que marcou a eleição de 2018 e pode ser usada para inflamar sua base em um possível retorno às urnas em 2026, caso não seja condenado.
O movimento é visto também como um teste de força da direita internacional. Ao se posicionar ao lado de Bolsonaro, Trump envia um recado aos seus próprios eleitores, retomando o papel de liderança global de um campo ideológico que se vê como vítima do sistema.
Democracia em xeque ou em defesa de seus princípios?
O episódio revela uma encruzilhada delicada: o quanto um julgamento, mesmo fundamentado em provas, pode ser minado por pressões políticas externas. Ao mesmo tempo, reforça a importância de instituições sólidas e do respeito mútuo entre nações — especialmente quando o tema é justiça.
É natural que figuras públicas emitam opiniões sobre temas globais. Mas quando isso é feito de forma a desacreditar uma Suprema Corte, o gesto ultrapassa a diplomacia e fere a autonomia dos povos.
Conclusão: quando a soberania encontra o microfone global
A frase “Deixem Bolsonaro em paz”, publicada em tom direto e indignado por Donald Trump, não foi apenas um tuíte inflamado. Ela virou símbolo de uma disputa maior entre o populismo internacional e o Estado de Direito. Uma frase que tenta redefinir, à força, os limites da Justiça brasileira — e que, ao ser contestada, reafirma o compromisso do país com a independência dos poderes.
No fim, cabe ao Judiciário julgar. Cabe à democracia resistir. E cabe aos cidadãos observar, entender e decidir de que lado da história querem estar quando vozes externas tentam ditar o que deve ou não ser feito dentro de nossas instituições.