Uma medida anunciada nesta semana pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou a movimentar os mercados internacionais. A partir de 1º de agosto de 2025, passará a valer uma tarifa extra de 25% sobre videogames, consoles e componentes eletrônicos importados do Japão e da Coreia do Sul, sob o argumento de que esses países estariam “alinhados a políticas antiamericanas” promovidas pelo BRICS.
A decisão impacta diretamente grandes nomes da indústria de tecnologia e entretenimento — como Nintendo, Sony e Samsung — e já começou a provocar reações imediatas. Consumidores temem aumento nos preços, atrasos em lançamentos e escassez de produtos em redes de varejo nos Estados Unidos e em países dependentes de seus estoques, como o Brasil.
Nintendo suspende pré-venda do Switch 2
Entre os efeitos mais imediatos da nova taxação está o adiamento da pré-venda do console Switch 2 pela Nintendo nos Estados Unidos. A empresa alegou que o impacto da tarifa sobre a cadeia de suprimentos tornou inviável iniciar as entregas sem rever os custos finais ao consumidor.
Segundo analistas de mercado, o console, que seria vendido a um preço estimado de US$ 450, pode ultrapassar US$ 600 com as novas alíquotas, caso o imposto não seja absorvido pelas revendedoras ou pelo fabricante. Jogadores americanos e latino-americanos, que dependem de importações diretas ou indiretas, serão os primeiros a sentir os efeitos no bolso.
Games digitais ganham fôlego
Embora a tarifa atinja os consoles e jogos em formato físico, jogos digitais distribuídos por plataformas como eShop, PS Store e Xbox Live não serão afetados, o que pode provocar uma mudança significativa no comportamento de compra dos consumidores.
A tendência de migração para o digital, já em crescimento, pode ser acelerada com essa nova política comercial, especialmente para quem busca escapar da alta dos preços. Consumidores brasileiros, que enfrentam a variação do câmbio e impostos de importação, também podem encontrar nas plataformas digitais uma forma de contornar a crise.
Reação dos governos asiáticos e busca por acordos
Tanto o governo japonês quanto o da Coreia do Sul se manifestaram publicamente contra a medida, classificando-a como “injustificada” e “prejudicial à ordem comercial global”. Em resposta, ambos os países iniciaram tratativas com Washington na tentativa de negociar redução de tarifas ou isenção temporária.
As conversas incluem a possibilidade de contrapartidas em investimentos bilaterais e abertura de setores estratégicos ao mercado norte-americano. A situação reacende os debates sobre os impactos geopolíticos da guerra comercial promovida por Trump em seu novo ciclo político.
Reflexos no Brasil e no mundo
No Brasil, os efeitos também podem ser sentidos, mesmo que de forma indireta. As redes de distribuição latino-americanas frequentemente se baseiam nos estoques norte-americanos e podem sofrer com aumento nos preços de consoles, acessórios e jogos físicos.
Além disso, plataformas de e-commerce que importam produtos dos EUA — como Amazon, Mercado Livre e varejistas especializadas — já monitoram a possibilidade de queda de demanda e aumento nas taxas de frete, repassando o impacto ao consumidor final.
Especialistas destacam que, embora a medida não afete diretamente a produção brasileira, ela interfere nas relações comerciais globais, e pode refletir até em peças e componentes de outras indústrias eletrônicas, como celulares, notebooks e até peças automotivas.
Quem perde com essa decisão
A medida é criticada por economistas e defensores do livre comércio. Para eles, o consumidor é o principal prejudicado, pagando mais por produtos sem qualquer melhoria na qualidade ou inovação. Além disso, pequenas lojas e distribuidores locais também enfrentam incertezas sobre reposição de estoque e ajuste nos valores de revenda.
Fabricantes, por sua vez, terão de escolher entre absorver parte da tarifa, com impacto nas margens de lucro, ou repassar integralmente o custo, correndo o risco de queda nas vendas. O cenário torna-se ainda mais complexo com a proximidade da temporada de Natal, historicamente a mais lucrativa para a indústria de games.
Mais do que consoles: um jogo de poder
Embora pareça um assunto restrito ao entretenimento, a nova tarifa é um movimento estratégico de Trump para reposicionar os EUA frente a seus concorrentes asiáticos. A retórica de combate ao BRICS e à “indústria antiamericana” pode funcionar como ferramenta eleitoral, mas traz consequências reais para a economia e para o dia a dia do consumidor.
A tentativa de proteger a produção interna dos Estados Unidos levanta dúvidas sobre sua eficácia: as grandes marcas de videogame e tecnologia continuam concentradas na Ásia, e o país não possui estrutura para substituir a oferta vinda do Japão e da Coreia do Sul com rapidez ou qualidade similar.
Conclusão: quando o jogo fica caro demais
O anúncio de Trump é mais do que uma tarifa. É uma jogada política com efeitos profundos no mercado global de games. Para o consumidor, significa mais cautela nas compras, maior dependência do digital e menos acesso a lançamentos recentes.
Enquanto os bastidores da política internacional se movem, o controle está — agora mais do que nunca — nas mãos dos jogadores, que precisam escolher entre esperar, adaptar-se ou pagar o preço de uma guerra comercial que está longe de acabar.