Surpreendentemente, Donald Trump formalizou a imposição de uma tarifa adicional de 10% sobre produtos importados de países que, segundo ele, se alinham a “políticas antiamericanas do BRICS”. O anúncio foi feito em rede social e não apresentou critérios claros para identificar quais nações se enquadram nessa definição. A ação é válida a partir de agosto e partiu do “grupo de países emergentes que ameaçam a supremacia do dólar”.
BRICS no centro da disputa geopolítica moderna
Apesar de não citar diretamente nações como Índia, África do Sul e China, Trump classificou o BRICS como “organização hostil ao interesse americano”. O anúncio ocorreu durante o encontro do BRICS em julho no Rio de Janeiro, onde líderes reforçaram a importância do multilateralismo e criticaram as pressões comerciais dos EUA. A tensão se intensifica com o posicionamento de grandes democracias emergentes em busca de cooperação entre o Sul Global.
Moedas emergentes repõem: rupee e rand em queda livre
O impacto foi imediato. A moeda indiana (rupee) sofreu queda de cerca de 0,5%, atingindo seu nível mais baixo desde meados de junho, sob pressão de investidores com saída de cerca de US$ 2 bilhões em julho. Já o rand sul-africano caiu cerca de 1%, reflexo direto da incerteza sobre a tarifa prevista em 30% sobre exportações sul-africanas. A moeda chinesa (yuan offshore) também caiu cerca de 0,2% no mesmo dia.
Além das cifras: o efeito sobre mercados, empregos e confiança
Analistas financeiros observam que a decisão de Trump não teve base em desequilíbrio comercial, mas em retaliação direta — transformando a tarifa em instrumento político mais do que econômico. O resultado foi queda generalizada nos mercados emergentes, com futuros de ações asiáticas e europeias recuando e aumento do índice de aversão ao risco.
Organizações econômicas estimam que a tarifa adicional pode reduzir até 40 pontos-base do PIB indiano em 2025‑26, especialmente no setor industrial, enquanto empregos estão ameaçados em setores como automóveis, citros e minerais na África do Sul.
Por dentro da nova agenda tarifária dos EUA
Em abril (o chamado “Liberation Day”), Trump já havia instituído uma tarifa básica de 10% sobre quase todas as importações, com alíquotas adicionais que variam de 25% a 50% em alguns países, como Índia (25%), Brasil (50%) e África do Sul (30%).
Agora, o governo anunciou que todos os países que se aliam às políticas anti‑americanas do BRICS pagarão 10% adicionais, acima das tarifas já existentes.
O verde dolar contra o mar de outras moedas
Enquanto as moedas emergentes sofrem, o dólar americano segue reforçando sua posição. Com o relatório fraco de empregos nos EUA, analistas agora estimam cerca de 90% de chance de corte de juros pelo Fed em setembro, o que paradoxalmente elevou ainda mais o dólar frente a outras moedas.
Em mercados emergentes, o comportamento do dólar passou a ser o principal fator de instabilidade: caem moedas da Ásia, África e América Latina simultaneamente, impactando a confiança global no consumo e nos investimentos transnacionais.
Como afeta o cidadão comum ou o pequeno empresário
Se você importa equipamentos, suprimentos ou produtos de países como Índia, China ou Brasil, espere aumento de preços e atrasos. No Brasil, por exemplo, produtos como café, suco e aço já enfrentam tarifas de até 50% em importações dos EUA .
Do outro lado, os consumidores americanos podem sentir o impacto nos preços de bens importados, dos eletrônicos aos alimentos exóticos, com reflexos na inflação doméstica.
Protestos diplomáticos e apelos por negociação
Líderes de países afetados classificaram a medida como “hostil” ou “desproporcional”. O governo sul-africano argumenta que o cálculo do déficit comercial foi “seletivo e injusto”.
Já o primeiro-ministro Narendra Modi, ao encerrar a presidência indiana do BRICS, pregou por “resiliência e inovação”, repudiando velhas estruturas de isolamento econômico.
Conclusão: retórica agressiva e risco para o sistema comercial
A tarifa extra de 10% anunciada por Trump transcende o comércio — é sinal de que o uso de tarifas como arma estratégica voltou com força total.
Mais do que cifras, está em jogo a confiança no dólar, o restabelecimento de fluxos comerciais previsíveis e o futuro de uma ordem internacional multilateral. Ao seguir atitudes unilaterais, os EUA correm o risco de acelerar a fragmentação econômica e a escalada de retaliações globais.
Se você lida com circulação internacional de produtos, dólar, contratos de fornecimento ou voos corporativos, vale lembrar: cada mudança tarifária traz efeitos em cadeia. Neste cenário, prudência se torna a moeda mais valiosa — pois a instabilidade pode ser tão devastadora quanto a rivalidade política.