O Sistema Único de Saúde (SUS) celebra nesta sexta-feira (19) seus 35 anos de existência, reafirmando-se como a maior rede pública, gratuita e universal de saúde do planeta.
Criado a partir da Constituição de 1988 e regulamentado pela Lei nº 8.080 em 1990, o SUS é responsável por garantir atendimento integral a todos os brasileiros — atualmente, 76% da população depende exclusivamente dele, o que equivale a 213 milhões de pessoas.
Do acesso restrito à universalização da saúde
Antes da criação do SUS, apenas trabalhadores formais vinculados à Previdência Social tinham direito a atendimento público, deixando grande parte da população sem assistência.
Hoje, a rede realiza 2,8 bilhões de procedimentos anuais e conta com cerca de 3,5 milhões de profissionais, segundo informações da ‘Agência Gov’.
“Foi na Unidade Básica de Saúde que fiz meu pré-natal, recebi todas as vacinas e onde meu filho nasceu com segurança. Hoje, quando ele adoece, sei que posso contar com o SUS”, relata a técnica de enfermagem Ana Célia dos Santos, de São Raimundo Nonato (PI).
Programas que mudaram a saúde no Brasil
Entre os marcos do sistema, está a Estratégia Saúde da Família (eSF), lançada em 1994, que ampliou o acesso à atenção primária, inclusive em áreas remotas, comunidades ribeirinhas e territórios indígenas.
O Brasil também possui a maior rede pública de transplantes do mundo. Em 2024, foram realizados 30 mil procedimentos. Além das cirurgias, o SUS fornece gratuitamente os medicamentos necessários para a vida dos transplantados.
“Eu renasci. O SUS me devolveu a vida. Essa segunda chance me transformou e hoje dedico minha trajetória a mostrar que doar órgãos é doar vida, e sou a prova viva de que a solidariedade salva”, afirma Robério Melo, 52 anos, que recebeu um transplante de fígado em 2017.

O SUS em momentos de crise
Durante a pandemia de Covid-19, a rede pública foi essencial para salvar vidas.
“Me recordo que, durante a pandemia, a gente viu que nós podemos realizar e cuidar de forma eficaz da saúde do povo”, relembra Cíntia Fernanda de Lima, agente comunitária de saúde em Natal (RN).
Casos graves também foram atendidos, como o de Rodrigo Silva Souza, 27 anos, que ficou com 50% do pulmão comprometido: “Mesmo com o hospital lotado e gente chegando toda hora, o SUS cuidou de mim com atenção. Foi o que salvou minha vida”.
Além da pandemia, o sistema demonstrou eficiência em desastres como a tragédia da Boate Kiss (2013), as enchentes no Rio Grande do Sul (2024) e a crise humanitária na terra Yanomami (2023), onde reduziu índices de mortalidade em até 74% em dois anos.
Linha do tempo de avanços
Entre os programas de destaque do SUS estão:
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SAMU 192 (2003);
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Brasil Sorridente (2004);
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Farmácia Popular (2004);
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Rede Cegonha – atual Rede Alyne (2011);
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Mais Médicos (2013);
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Brasil Saudável (2024);
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Agora Tem Especialistas (2025).
No campo da imunização, o Programa Nacional de Imunizações (PNI) oferece 48 imunobiológicos e já foi responsável pela erradicação da poliomielite e pela recente recertificação do Brasil como país livre do sarampo.
Desafios e o futuro do SUS
Um dos principais desafios ainda é a redução do tempo de espera por consultas e exames. O programa Agora Tem Especialistas aposta na telessaúde, que já realizou 2,5 milhões de atendimentos em 2024 e pode reduzir em até 30% as filas por especialistas.
Com o Novo PAC Saúde, novas UBS, maternidades, policlínicas e ambulâncias do SAMU 192 estão previstas, além da expansão de serviços em territórios indígenas.
“O SUS dá toda a assistência para a gente. Se não fosse o SUS, o que seria da gente?”, questiona a agricultora Lucicleide Maria da Silva, paciente da rede.
Para a enfermeira Eleuza Procópio de Souza Martinelli, que atua há 30 anos no sistema, o futuro é promissor:
“Eu espero que nos próximos anos tenhamos um SUS cada vez mais forte em todas as regiões do país. Que ele chegue a cada pessoa e tenha cada vez mais um olhar para além da saúde”.