Um novo vídeo divulgado pelo Hamas nesta segunda-feira trouxe à tona mais uma cena chocante da crise no Oriente Médio. Nas imagens, o refém israelense Evyatar David, ainda sob controle do grupo extremista palestino, aparece cavando sua própria cova dentro de um túnel em Gaza. Com voz trêmula, ele afirma estar há dias sem comida, recebendo apenas uma lata de lentilha como refeição.
A gravação, amplamente compartilhada por canais internacionais, aumentou a pressão global sobre o Hamas e sobre os atores envolvidos no conflito, especialmente em relação ao tratamento dado aos reféns. Organizações de direitos humanos, chefes de Estado e familiares de sequestrados reagiram com indignação e temor.
A condição dos reféns: invisíveis sob a terra
O vídeo de Evyatar David evidencia uma realidade sombria: muitos dos reféns israelenses estão sendo mantidos em túneis subterrâneos, estruturas que há anos vêm sendo associadas à tática de guerra do Hamas. Segundo o governo de Israel, pelo menos 50 pessoas seguem sequestradas, com estimativas indicando que apenas 20 ainda estariam vivas.
O Exército israelense afirma que os túneis se espalham por dezenas de quilômetros, muitos sob áreas civis densamente povoadas. Essa geografia subterrânea tem dificultado operações de resgate e contribuído para um ambiente de extremo risco tanto para os reféns quanto para os civis palestinos.
Evyatar, cuja família já havia feito apelos públicos por sua libertação, parece visivelmente debilitado, com olheiras profundas e sinais claros de desnutrição. Ele menciona, em trecho do vídeo, que perdeu a noção do tempo e que vive sob constante ameaça.
Repercussão internacional e cobrança por ação
A divulgação do vídeo gerou repercussão imediata na comunidade internacional. A Organização das Nações Unidas (ONU) condenou o uso de reféns como instrumento de propaganda e alertou que as condições descritas por David podem configurar crime de guerra. O secretário-geral António Guterres afirmou estar “profundamente alarmado” e reforçou o apelo por acesso humanitário imediato aos cativos.
Nos Estados Unidos, o porta-voz do Departamento de Estado classificou o conteúdo como “desumano e repugnante”. Já a União Europeia cobrou um cessar-fogo que garanta a libertação incondicional dos reféns e a proteção dos civis em Gaza, onde a situação humanitária continua se agravando.
O vídeo também mobilizou protestos em Tel Aviv, onde familiares de outros reféns se reuniram diante do Parlamento israelense, exigindo que o governo intensifique as negociações por libertações ou empreenda ações mais eficazes para resgate.
O silêncio do Hamas e o avanço da crise
Até o momento, o Hamas não se manifestou oficialmente sobre o vídeo. A gravação foi divulgada por canais informais associados ao grupo, estratégia comum utilizada para escapar de sanções e manter impacto midiático.
Analistas afirmam que o vídeo pode ter sido uma tentativa do Hamas de enviar uma mensagem simbólica tanto para Israel quanto para o mundo: os reféns seguem sob seu controle, e seu destino está nas mãos dos negociadores.
Enquanto isso, as negociações por trégua seguem em compasso lento. Intermediadores do Egito e do Catar indicam que há avanços pontuais, mas a desconfiança entre as partes permanece como principal obstáculo.
Crise humanitária se agrava em Gaza
O vídeo também lançou luz sobre as condições humanitárias no interior da Faixa de Gaza. Desde o início da escalada do conflito, os bombardeios intensos e os bloqueios de abastecimento têm deixado milhões de palestinos em situação de vulnerabilidade extrema.
O Comitê Internacional da Cruz Vermelha relatou que não consegue acesso aos túneis subterrâneos para verificar as condições dos reféns ou oferecer cuidados médicos. Com energia elétrica racionada, escassez de água potável e hospitais colapsados, Gaza está à beira de um colapso humanitário irreversível.
Em paralelo, a situação dos reféns acrescenta uma nova camada de urgência ao cenário, mobilizando inclusive lideranças religiosas e vozes da sociedade civil de diversos países.
Conclusão: a urgência por respostas e a sombra do tempo
A imagem de um homem cavando sua própria cova sob a terra é mais do que simbólica: é um grito silencioso diante da impotência internacional, da brutalidade da guerra e da fragilidade da vida em zonas de conflito.
Para Evyatar David e os outros reféns, o tempo se tornou um inimigo cruel. Cada dia que passa sem resposta concreta representa um risco maior. O vídeo divulgado pelo Hamas não é apenas um registro brutal, mas um alerta vivo — de que há vidas desaparecendo enquanto o mundo debate estratégias diplomáticas e ações militares.
Se há algo que ainda pode ser feito, é agora. Não quando novas covas forem escavadas, mas enquanto ainda houver respiro sob a terra.