A harmonização peniana tornou-se uma tendência entre homens brasileiros nos últimos anos, impulsionada por propagandas em redes sociais e promessas de autoestima elevada. Mas, por trás da popularidade, surgem relatos de complicações graves — como o caso de Jorge, que precisou passar por duas cirurgias de reconstrução peniana após três aplicações de PMMA (polimetilmetacrilato).
“Em meados de 2005, fui convencido por propagandas publicadas em jornais e revistas que prometiam o aumento do pênis.
Decidi viajar a São Paulo e fiz uma aplicação de PMMA numa clínica bem escondida. Nem sabia se o profissional que me atendeu era médico”, contou ele à ‘BBC News Brasil’.
O problema se agravou após novos procedimentos em 2015 e 2018. Dois anos depois da terceira intervenção, Jorge desenvolveu inflamações recorrentes e chegou a correr o risco de perder o órgão.
“Era como se meu corpo quisesse expulsar aquele PMMA de algum jeito”, disse.
O urologista Ubirajara Barroso Jr., professor da Universidade Federal da Bahia, conduziu as cirurgias de remoção do acrílico e reconstrução.
“Foi possível cicatrizar as feridas e remover boa parte do PMMA”, relatou Jorge, que hoje se recupera. Segundo o médico, o PMMA é uma substância proibida para esse fim. Apenas o ácido hialurônico é considerado seguro e reversível.
“Fujam das propagandas fantasiosas”, aconselha ele, destacando que sequer conversou com a esposa antes de fazer os procedimentos.
O que é a harmonização peniana?
O termo descreve uma série de procedimentos estéticos que prometem aumentar o calibre ou o comprimento do pênis. As técnicas mais usadas incluem:
-
Preenchimento com ácido hialurônico: absorvível pelo corpo, é considerado mais seguro que o PMMA.
-
Cirurgias de alongamento: envolvem liberação de ligamentos ou lipoaspiração da região púbica, especialmente indicada para casos de “pênis embutido” em homens com obesidade.
-
“Escrotox”: aplicação de toxina botulínica na bolsa escrotal, ainda com poucas evidências científicas.
Segundo o urologista Fernando Facio, da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), “o ácido hialurônico tem baixo risco de complicações quando aplicado corretamente e ainda pode ser revertido em caso de reação adversa”.
Quem realmente precisa?
Os especialistas apontam que a harmonização peniana pode ajudar em casos de micropênis ou quando há acúmulo de gordura na pelve que esconde o órgão. No entanto, muitos pacientes buscam o procedimento por motivos estéticos ou ligados à autoestima.
“Seria muito preconceito dizer a um homem com desejo de engrossar o pênis que ele não pode fazer isso”, avalia Barroso Jr., lembrando que a autonomia do paciente deve ser respeitada.
Porém, médicos alertam para a influência de questões psicológicas, como a dismorfia corporal — distúrbio em que a percepção do corpo é distorcida, levando a intervenções repetitivas e riscos desnecessários.

Riscos e expectativas
Apesar do apelo estético, especialistas lembram que os resultados têm limites. O preenchimento com ácido hialurônico pode aumentar até 2 cm de circunferência, mas não modifica o comprimento.
Procedimentos malfeitos, por outro lado, podem causar necrose, embolia e até perda do pênis. “O pênis é um órgão único, cheio de vasos sanguíneos e nervos. Essas intervenções exigem rigor técnico”, reforça o urologista Fernando Facio.
O cirurgião plástico Flávio Rezende, que estuda técnicas de aumento peniano desde 2018, compara a tendência atual ao boom das próteses de silicone entre mulheres.
“Vivemos agora a era do aumento peniano entre os homens. É uma demanda real de mercado”, afirma.
Entre a vaidade e a saúde
Para a psiquiatra Carmita Abdo, do Hospital das Clínicas da USP, a pressão estética masculina tem raízes culturais e na influência da pornografia.
“O pênis é visto como um símbolo de poder e virilidade. Muitos pacientes não conseguem perceber o órgão como ele realmente é”, observa, em entrevista à ‘BBC News Brasil’.
Especialistas reforçam que, antes de qualquer procedimento, é essencial buscar orientação médica especializada, avaliar a saúde mental e desconfiar de promessas milagrosas.