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Quanto de energia e água a IA consome? Data centers crescem e levantam alerta ambiental

Especialistas advertem para impacto ambiental e consumo de água em meio à expansão impulsionada pela inteligência artificial no mundo todo

As fotos publicadas nas redes sociais, os filmes assistidos em streaming e até as apostas online passam por uma mesma estrutura: os data centers. Esses gigantescos centros de processamento de dados funcionam como verdadeiros “cérebros da internet” e, além de armazenar informações, são grandes consumidores de energia.

Dentro dos data centers, longos corredores reúnem fileiras de racks repletos de servidores. Para operar, essas estruturas exigem enorme quantidade de energia, consumida não apenas pelo funcionamento das máquinas, mas também pelos sistemas de refrigeração, que trabalham continuamente para evitar o superaquecimento dos equipamentos.

Eles funcionam como um computador gigante de alta performance, explica Juliano Covas, gerente comercial e de engenharia da Corning Optical Communications para a América Latina, em matéria publicada pela ‘BBC News Brasil’.

Segundo a Associação Brasileira de Data Centers (ABDC), existem hoje 162 unidades no Brasil, com capacidade entre 750 MW e 800 MW, o que equivale ao consumo energético de uma cidade de aproximadamente 2 milhões de habitantes.

A força da inteligência artificial e a expansão acelerada

Com a popularização da inteligência artificial (IA), a previsão é que a demanda cresça mais de 20 vezes na próxima década.

O Ministério de Minas e Energia estima que, em 2038, os data centers no Brasil possam consumir 17.716 MW, número comparável ao gasto energético de uma cidade de 43 milhões de habitantes.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, destacou recentemente que o Brasil pode se tornar estratégico nesse setor por conta da grande oferta de energia, em um contexto de negociações comerciais com os Estados Unidos.

Megaempreendimentos e novos investimentos

Um dos projetos em andamento é um data center de 300 MW no porto do Pecém, no Ceará, com investimento previsto de R$ 50 bilhões. O empreendimento desperta o interesse de grandes empresas de tecnologia, como a chinesa ByteDance, dona do TikTok.

Segundo a Casa dos Ventos, responsável pelo projeto, a construção deve começar no segundo semestre de 2025, com inauguração prevista para 2027. A empresa afirma que o complexo usará energia eólica e solar, além de um sistema de refrigeração de ciclo fechado, que reduz o consumo de água.

Transparência e impacto ambiental

Apesar dos avanços, especialistas alertam que faltam dados claros sobre o real consumo energético. “Os data centers são caixas pretas”, afirma o economista Alex de Vries, pesquisador da Vrije Universiteit Amsterdam e fundador do Digiconomist.

De Vries calcula o consumo global de IA a partir de dados da indústria de chips e estima que, em 2025, a inteligência artificial poderá usar o dobro da energia consumida hoje por um país como a Holanda.

“As empresas sabem exatamente quanto de energia seus sistemas de IA estão usando, eles apenas optam por não publicar essa informação”, critica.

Data Centers
Foto: Shutterstock

Uma garrafa d’água por pergunta ao ChatGPT?

O debate ganhou repercussão após reportagem do ‘Washington Post’ (2024), baseada em estudo da Universidade da Califórnia, Riverside, que calculou que uma resposta do ChatGPT de 100 palavras pode consumir até 519 ml de água.

O impacto depende do tipo de refrigeração e da localização do data center: no Texas, a estimativa é de 235 ml, enquanto em Washington pode chegar a 1.468 ml.

“Isso não foi inventado, mas é um caso bem específico, em um determinado contexto”, ressalta Fabro Steibel, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade (ITS).

Renováveis também têm efeitos colaterais

Embora menos poluentes, energias renováveis também geram impactos. No Ceará, pesquisas da professora Adryane Gorayeb, da Universidade Federal do Ceará (UFC), identificaram conflitos com comunidades tradicionais após a instalação de parques eólicos.

“Muitas das comunidades tradicionais do litoral impactadas pela construção de usinas vivem uma rotina de ameaças aos seus direitos mais básicos, desde acesso à água, alimentos e à terra”, afirma.

Soluções brasileiras para IA sustentável

O Brasil, porém, começa a buscar alternativas locais. Em Goiás, a recém-aprovada lei de fomento à IA prevê o uso de biometano, derivado da produção agrícola, para abastecer data centers.

“A necessidade faz a solução. Se eles [big techs] têm todo o equipamento à disposição, não têm incentivo nenhum de revolucionar. A gente não tem esse recurso”, destaca Steibel.

O Estado também será o primeiro do país a receber os novos chips Nvidia Blackwell B200, encomendados pela Universidade Federal de Goiás (UFG), que pretende usá-los em projetos de pesquisa.

O crescimento dos data centers no Brasil mostra um cenário de oportunidade econômica, mas também de desafios ambientais. Enquanto a demanda por IA aumenta, especialistas defendem mais transparência e inovação sustentável para equilibrar consumo e impactos.

Maysa Vilela

Jornalista curiosa por natureza, com mais de 10 anos de estrada, movida por conexões fortes, viagens e boas histórias. Acredita que ouvir é o primeiro passo pra escrever com propósito. No Ocorre News, segue conectando pessoas através das palavras.

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