O presidente da Rússia, Vladimir Putin, admitiu nesta quinta-feira (9) que as forças de defesa aérea russas foram responsáveis por derrubar o avião da Embraer que caiu no Cazaquistão, em 25 de dezembro de 2024, causando a morte de 38 pessoas.
A declaração ocorreu durante um encontro com o presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev. Putin afirmou que dois mísseis russos explodiram próximos à aeronave da Azerbaijan Airlines, após a entrada de drones ucranianos no espaço aéreo russo.
“Os dois mísseis lançados não atingiram o avião diretamente. Se isso tivesse acontecido, ele teria caído no local.
Mas eles explodiram, talvez como medida de autodestruição, a poucos metros de distância, cerca de 10 metros. E, assim, o dano foi causado, não pelas ogivas, mas provavelmente pelos destroços dos próprios mísseis”, explicou Putin.
“É por isso que o piloto percebeu a colisão como um bando de pássaros, o que ele relatou aos controladores de tráfego aéreo russos, e tudo isso está registrado nas chamadas ‘caixas-pretas’”, completou.
Aliyev agradece e Rússia promete indenização
Durante o encontro, Ilham Aliyev agradeceu a Putin por acompanhar pessoalmente as investigações. O líder azeri havia criticado Moscou na época do acidente, acusando o país de tentar encobrir a causa da queda do avião.
Putin também pediu desculpas e garantiu compensações às famílias das vítimas:
“É claro que tudo o que for necessário em casos tão trágicos será feito pelo lado russo em termos de indenização e uma avaliação legal de todas as questões oficiais será feita. É nosso dever, repito mais uma vez… fazer uma avaliação objetiva de tudo o que aconteceu e identificar as verdadeiras causas.”

O acidente e as primeiras investigações
O voo J2-8243, operado por uma aeronave Embraer 190, partiu de Baku, capital do Azerbaijão, com destino a Grózni, na Chechênia. A queda ocorreu a cerca de 3 km de Aktau, no oeste do Cazaquistão, após o piloto tentar um pouso de emergência.
Um relatório preliminar divulgado em fevereiro de 2025 pelo governo do Cazaquistão indicou que a queda foi provocada por “objetos externos”, embora ainda fossem necessários novos exames para determinar sua origem.
O documento revelou que os pilotos relataram ter sido atingidos por pássaros, e que dois assentos explodiram. Os investigadores encontraram danos múltiplos e perfurações na fuselagem e na cauda da aeronave, compatíveis com fragmentos metálicos.
Na época, especialistas já suspeitavam que os danos pudessem ter sido causados por estilhaços de mísseis russos, uma vez que o país havia ativado seus sistemas de defesa para repelir ataques de drones ucranianos dias antes do acidente.
Vladimir Putin admite que dois mísseis russos explodiram ao lado de um avião da Azerbaijan Airlines, derrubando a aeronave e matando 38 pessoas, ano passado. Putin pediu desculpas e prometeu indenizar as vítimas. O disparo ocorreu por baterias antiaéreas após drones ucranianos… pic.twitter.com/qe6XUFQzmd
— Renato Souza (@reporterenato) October 9, 2025
Participação do Brasil na análise das caixas-pretas
As caixas-pretas do avião foram enviadas ao Brasil, sede da fabricante Embraer, para análise técnica conduzida pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa).
Os equipamentos chegaram em 1º de janeiro e foram analisados no dia seguinte. Em 6 de janeiro, os dados foram entregues à Autoridade de Investigação de Acidentes Aeronáuticos do Cazaquistão, responsável pela investigação final.
Em nota, a Força Aérea Brasileira (FAB) informou:
“Toda a análise e as conclusões que serão publicadas no Relatório Final dessa investigação aeronáutica são de exclusiva responsabilidade da Autoridade de Investigação do Cazaquistão.”
Contexto e repercussão internacional
A confirmação russa ocorre quase um ano após o acidente e encerra meses de especulações sobre a origem da tragédia. A admissão pública de erro militar é vista como um gesto diplomático raro, especialmente em meio às tensões regionais envolvendo Rússia, Ucrânia e Azerbaijão.
A promessa de indenização e transparência nas investigações pode amenizar o impacto político do episódio, que envolveu tecnologia brasileira, tripulação azeri e território cazaque, tornando o caso um dos mais complexos da aviação recente.