Em Cataguases, Minas Gerais, o nascimento do pequeno Nathan trouxe não apenas emoção, mas também um exemplo marcante de acessibilidade e inclusão. No mês de agosto, a jovem surda Amanda Vitória da Silva Felipe, de 26 anos, contou com o apoio essencial da intérprete de Libras Hilmara Miranda Gomes, que a acompanhou durante todo o trabalho de parto e garantiu que cada etapa fosse compreendida.
O caso, revelado no Dia Nacional do Surdo, celebrado em 26 de setembro, reforça o quanto a presença de intérpretes em ambientes de saúde pode transformar experiências e assegurar dignidade para pessoas com deficiência auditiva.
Laço de confiança
Segundo informações do ‘Correio Braziliense’, a relação entre Amanda e Hilmara começou anos antes, na Igreja Wesleyana, onde a intérprete atua desde 2017. “Sempre disse a Amanda que ela poderia me ligar a qualquer hora, que eu estaria disponível para ajudá-la”, contou Hilmara em entrevista ao ‘Correio’.
Essa promessa se tornou realidade quando a mãe de Amanda entrou em contato pedindo que a profissional fosse até o hospital.
Formada em Letras Libras em 2023, Hilmara decidiu seguir a carreira após um episódio marcante em 2017, quando não conseguiu se comunicar com um amigo surdo em luto.
“Foi um choque. Eu queria estar ali, mas não consegui. Isso me impulsionou a estudar e me aproximar da comunidade surda”, relembrou.
Apoio durante o parto
Durante as 15 horas de tentativa de parto normal, a intérprete esteve presente em todos os momentos: desde o preenchimento de documentos na recepção até a mediação entre paciente e equipe médica.
“Eu transmitia cada orientação da médica para ela, e também levava os desejos e sentimentos de Amanda para a equipe.
Quando ela já estava sem forças, foi ela mesma quem sinalizou que preferia a cesariana. Eu traduzi para a médica e seguimos juntos para esse momento”, explicou Hilmara.
O parto de Nathan contou ainda com a presença do pai, Gustavo, e da sensibilidade dos profissionais de saúde, que se empenharam em aprender sinais básicos da Língua Brasileira de Sinais para se comunicarem diretamente com Amanda.
“Eles queriam dizer parabéns, queriam elogiar o bebê. Foi muito bonito ver essa iniciativa. Amanda não apenas foi paciente, mas se sentiu acolhida e respeitada”, destacou a intérprete.
Emoção e pertencimento
Amanda descreveu a experiência como única. “Mesmo cansada, senti segurança e pertencimento. Eu não fiquei de fora, participei de tudo. Meu filho nasceu saudável, e esse dia ficará para sempre na minha memória”, disse.
Ela também ressaltou a empatia da equipe médica. “A equipe médica, sensível à minha condição, fez questão de sinalizar em Libras comigo. Fui acolhida, respeitada e senti que realmente pertencia àquele espaço”, afirmou.
Inclusão além da lei
Para Hilmara, o episódio é um símbolo do que a acessibilidade pode proporcionar.
“Foi um momento único. Amanda teve voz, conseguiu ser compreendida, e toda a equipe participou com empatia. A lei existe, mas muitas vezes não é cumprida. Esse dia mostrou o quanto é possível criar ambientes de respeito quando existe sensibilidade e vontade de incluir”, refletiu.
No Dia Nacional do Surdo, a intérprete reforça a importância de uma postura empática.
“A acessibilidade acontece quando criamos espaços em que as pessoas participam naturalmente. Primeiro, é preciso ter empatia, abrir o coração, reconhecer que cada pessoa é diferente e estar disposto a aprender. Quando a gente se dispõe a isso, o ambiente inteiro se transforma”, concluiu.