O número de pinguins-de-magalhães (Spheniscus magellanicus) encontrados mortos nas praias de Cananéia, Iguape e Ilha Comprida, no litoral de SP, subiu para 739, segundo dados divulgados pelo Instituto de Pesquisas Cananéia (Ipec). O fenômeno é considerado um encalhe em massa e preocupa pesquisadores da região.
De acordo com o Ipec, os registros correspondem ao período de sexta-feira (15) até quinta-feira (21). Inicialmente, o balanço apontava pouco mais de 350 animais encontrados apenas em Ilha Comprida, mas o número quase dobrou ao longo da semana.
Os pinguins mortos estão sendo recolhidos por equipes do Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia de Santos (PMP-BS). Um novo levantamento será divulgado nesta sexta-feira (22), incluindo novos animais identificados ao longo das últimas horas.
Possíveis causas da mortandade de pinguins
Especialistas apontam diferentes fatores que podem ter contribuído para o fenômeno. Muitos dos animais aparentam ser jovens e em condição debilitada.
O biólogo Alex Ribeiro explicou, em entrevista ao ‘G1’, que a inexperiência pode ter influência no encalhe.
“Às vezes, na primeira viagem, não estão muito bem orientados e acabam se perdendo”, disse. Segundo ele, a falta de alimentos também pode ter levado os pinguins a se aproximarem da costa.
“Se os animais estão sujos de óleo ou se ingeriram lixo de alguma forma”, destacou Alex, lembrando que apenas análises necroscópicas podem confirmar as causas.
Já o biólogo William Rodriguez Schepis levantou a hipótese de interação com redes de pesca. “É um animal que não tem mercado, não tem valor econômico, então ele [pescador] já descarta no mar”, explicou.
Apesar do número expressivo, Schepis destacou que o fenômeno pode estar ligado ao processo de seleção natural. “Existe um descarte natural. Então a seleção natural acaba fazendo esse papel”, disse.

Migração e fragilidade da espécie
O período coincide com a migração dos pinguins-de-magalhães, que deixam colônias na Patagônia argentina e percorrem longas distâncias até o litoral brasileiro. A viagem ocorre entre junho e setembro, utilizando a Corrente Tropical do Atlântico Sul em busca de alimento.
Segundo Ribeiro, muitos não resistem ao esforço.
“Como a viagem é muito longa, muitos chegam fracos, debilitados, não conseguem se alimentar o suficiente para fazer a viagem toda e acabam morrendo”, afirmou.
O biólogo Rafael Santos também destacou a escassez de alimento em águas do Sudeste. “Tanto que a maioria que encalha tem características muito parecidas: São animais que estão magros e a grande maioria é filhote”, explicou.
Schepis, no entanto, chamou atenção para a quantidade encontrada em tão pouco tempo. “É um número expressivo. Uma quantidade bem grande, num período bem curto aí de tempo. Precisa estar fazendo uma análise mais aprofundada com as carcaças dos pinguins”, reforçou.