Uma jovem de 21 anos foi presa preventivamente após criar um perfil de fofocas que expunha moradores de Conceição das Alagoas, cidade de de cerca de 30 mil habitantes no Triângulo Mineiro.
Segundo a Polícia Civil, a investigada, identificada como Anielly Mariana Sousa Silva, chegou a cobrar dinheiro das vítimas para remover postagens que viralizaram na internet.
De acordo com reportagem do programa da TV Globo ‘Fantástico’, exibida no último domingo (14), os conteúdos ultrapassaram 2 milhões de visualizações e envolviam acusações de traições, gravidez, orientação sexual e até agressões físicas contra crianças.
Como funcionava a rede de fofocas
As investigações apontam que a jovem usava um aplicativo de mensagens anônimas para incentivar a população a enviar relatos sobre vizinhos, colegas e até instituições locais. Sem checar as informações, ela publicava as mensagens como se fossem verdadeiras.
Entre os textos divulgados, estavam frases como: “Abre o olho, amiga, seu marido te trai”; “Todo mundo sabe que ela gosta mesmo é de homem casado” e “Me paga, caloteira”.
Em alguns casos, os nomes das pessoas eram citados de forma explícita, gerando sérios impactos na vida dos moradores.
Uma vítima relatou que a filha sofreu bullying e desenvolveu depressão após ser mencionada. Outro morador afirmou que seu casamento terminou após ser acusado de infidelidade em uma das postagens.
Repercussão atingiu até instituições
A polêmica ultrapassou a esfera individual e chegou a afetar entidades locais. O Lar das Crianças, instituição de caridade da cidade, foi alvo de uma acusação de maus-tratos contra uma criança com deficiência. A organização negou o episódio, mas revelou que a venda de rifas para arrecadação de fundos caiu drasticamente após a publicação.
Extorsão e cobranças via Pix
Além das difamações, a polícia descobriu que Anielly cobrava quantias em dinheiro para apagar as postagens. Segundo o delegado Bruno Cordeiro Martins, havia registros de pagamentos que variavam entre R$ 200 e R$ 500.
Em áudios obtidos pela investigação, a jovem aparece condicionando a exclusão dos conteúdos ao pagamento via Pix:
“Se está lá, se mandaram, é porque é verdade, entendeu? Então, eu não posso fazer nada. Você me paga que eu apago. Eu não tenho obrigação de apagar nada dessa página, gente. Você que tem que me pagar, querida. Você que tem que me pagar para eu apagar. Eu não vou apagar, entendeu?”.
Prisão preventiva
Mesmo diante das denúncias, a jovem continuou publicando novos conteúdos até um dia antes de ser presa. Para a polícia, essa foi a principal razão da decretação da prisão preventiva.
“Ela tinha plena convicção de que não ia acontecer nada com ela. A prisão preventiva é porque ela não parou, em nenhum momento, de fazer essas postagens”, afirmou o delegado.
Em outra declaração, ele destacou os riscos das difamações: “E se uma pessoa se suicidar? E se uma pessoa terminar uma família? Quantas pessoas você pode destruir com uma fofoca?
Nós temos um país com a liberdade de expressão. Tenho a liberdade de me manifestar? Tenho. Mas ela não é irrestrita. O meu direito vai até onde o seu também é protegido”.
O perfil foi desativado pela rede social, e a jovem Anielly Mariana Sousa Silva deve responder por extorsão, crime que pode render até 10 anos de prisão. A defesa dela não se manifestou.
Confira a matéria do ‘Fantástico’ sobre a jovem que foi presa, na íntegra:
