O Parque Estadual da Pedra Selada, em Resende (RJ), tornou-se cenário de uma descoberta emocionante: uma irara branca, animal de coloração albina ou leucística, foi fotografada por uma moradora enquanto descia agilmente por uma araucária — um registro raríssimo que surpreendeu especialistas e visitantes.
A observadora foi a meliponicultora Carla Belinger, que vive nas imediações da reserva. Ela compartilhou o vídeo com o Instituto Estadual do Ambiente (Inea), que cuida da preservação do parque e confirmou que o animal provavelmente exibe uma mutação genética incomum, já que a pelagem completamente branca indica ausência de pigmentação.
Irara: o que sabemos sobre essa espécie discreta
A irara (Eira barbara), também chamada de papa-mel ou papa-melão, é um mamífero carnívoro da família Mustelidae, que se distribui amplamente pela Mata Atlântica. Seu corpo é alongado, com cauda espessa e grande habilidade para subir em árvores — características que a tornam pouco visível e de comportamento silencioso.
Ela tem hábitos solitários ou vive em pequenos grupos, é exímia caçadora de roedores, insetos e répteis, e também se alimenta de frutas e mel. Apesar da distribuição geográfica extensa, ainda há muitos pontos cegos na pesquisa sobre a espécie no estado do Rio de Janeiro.
O que torna essa irara tão rara
O registro de um animal totalmente branco é extraordinariamente raro. A ausência de melanina sugere albinismo completo ou parcial, condição genética que reduz a camada de pigmento na pele, pelagem e olhos. Estudos apontam que indivíduos albinos enfrentam maiores riscos de predadores e sensibilidade à radiação ultravioleta.
Para Marco Gonçalves, gerente de Fauna do Inea, é um marco para a fauna fluminense ver uma irara em mutação e ainda viva em habitat natural — um sinal da relevância dos esforços de conservação na região.
Pedra Selada: guardiã da diversidade
O Parque Estadual da Pedra Selada, criado em 2012 e com mais de 8 mil hectares, abriga formações naturais da Serra da Mantiqueira e uma rica biodiversidade, que inclui espécies endêmicas e ameaçadas. Além de trilhas e vegetação nativa, o parque realiza atividades de educação ambiental e pesquisa.
A descoberta da irara branca reforça o papel do parque como refúgio para animais pouco vistos ou pouco compreendidos — e mostra que essas unidades de conservação são, por vezes, laboratórios vivos que nos oferecem encontros inesperados com o extraordinário.
O impacto sobre a sociedade e a ciência
O vídeo viralizou rapidamente nas redes sociais. Muitas pessoas confundiram o animal com “lontra branca” ou até “mini urso polar”. Esse fenômeno revela como um único registro pode mobilizar curiosidade, empatia e admiração — e, ao mesmo tempo, despertar questões sobre ciência cidadã e educação ambiental.
A repercussão também levou moradores e visitantes a refletirem sobre o valor da preservação ambiental e a importância de agir para proteger os habitats naturais. A imagem de uma irara que nasceu diferente, porém adaptada à floresta, emocionou e gerou propósito.
O que virá pela frente: pesquisa, vigilância e esperança
Grupos de pesquisadores já planejam ações como armadilhas fotográficas, coletas não invasivas e expedições noturnas para tentar identificar outros indivíduos albinos ou estudar a irara com mais profundidade. A ideia é entender se foi um caso isolado ou sinal de presença contínua na região.
Caso mais espécimes surjam, isso pode abrir caminho para estudos mais amplos sobre genética, comportamento e conservação da espécie no Sudeste brasileiro.
Um símbolo de surpresa e cuidado ambiental
O encontro com a irara branca no Parque da Pedra Selada é uma lembrança de que a natureza ainda pode surpreender — mesmo em ambientes cotidianos de trilhas ecológicas. Sua coloração incomum se tornou símbolo de um ecossistema que, se conservado, revela segredos em cada sombra da mata.
Para aqueles que amam a vida selvagem, o registro é um lembrete de que cada trilha visitada com respeito pode revelar histórias que desafiam o comum. E cada vídeo compartilhado vem acompanhado de responsabilidade: compartilhar sem invasão, admirar sem interferir e proteger sem desejar que se repita.
Essa irara branca caminha silenciosa entre as árvores, provocando reflexão: sobre o quão pouco conhecemos, sobre o que perdemos e sobre o poder da ciência, da cidadania e dos parques na reconstrução da confiança na vida — inclusive aquela que se veste de branco e desaparece no verde