A argelina Imane Khelif não participará do Campeonato Mundial de Boxe, que começa nesta quinta-feira (4) em Liverpool. A decisão ocorre em meio à polêmica sobre os testes de gênero obrigatórios introduzidos pela World Boxing, entidade que será responsável pelo boxe nos Jogos Olímpicos de 2028.
Em maio, a World Boxing anunciou que todos os atletas precisariam apresentar exames genéticos de sexo para competir. A medida veio após a repercussão das conquistas de Khelif e da taiwanesa Lin Yu-ting, que levaram o ouro em Paris em meio a questionamentos sobre elegibilidade.
Khelif entrou com recurso no Tribunal Arbitral do Esporte (TAS) para anular a decisão. Ainda assim, não se inscreveu no Mundial deste ano.
“Ela tem o direito de fazer isso (recorrer). Para nós, é importante enfatizar que introduzimos testes obrigatórios para termos competições seguras e competitivas, competições justas”, declarou o presidente da entidade, Boris van der Vorst, nesta quarta-feira (3).
Federação argelina e ausência de Lin Yu-ting
A Federação Argelina de Boxe não respondeu aos pedidos de comentário sobre a ausência da atleta. Já Lin Yu-ting também ficará de fora da competição.
“Sei que ela também não faz parte da lista de inscritos da Federação Nacional”, acrescentou Van der Vorst.
Declarações da World Boxing
Segundo o dirigente holandês, a medida tem como objetivo garantir igualdade no esporte.
“Anunciamos em maio. E para nós, todos são iguais. Toda mulher aqui precisa apresentar vários documentos, incluindo o teste de sexo”, explicou.
Van der Vorst afirmou ainda que não é possível concluir se Khelif seria reprovada nos exames, destacando apenas que a atleta não se inscreveu para o torneio.
Ele defendeu a introdução dos testes como um passo essencial:
“O boxe é um esporte de combate e é importante ter competições seguras e justas. Então, para nós, é realmente crucial introduzir esse tipo de teste. Acho que é um passo importante para mostrarmos que queremos proteger o boxe feminino”.

Entenda a polêmica envolvendo Imane Khelif nas Olimpíadas
A polêmica envolvendo Imane Khelif nas Olimpíadas surgiu em Paris 2024, quando a argelina foi suspensa pela IBA (Associação Internacional de Boxe) pouco antes da final do Mundial de 2023.
A entidade alegou que exames indicaram que ela não seria “elegível” para competir na categoria feminina. Essa decisão gerou forte repercussão porque a IBA nunca apresentou publicamente detalhes técnicos, tampouco provas concretas.
Durante os Jogos de Paris, Khelif pôde competir porque o Comitê Olímpico Internacional (COI) não reconheceu a suspensão e declarou que ela era elegível como atleta feminina.
A atleta argelina chegou a vencer lutas de forma dominante, tendo conquistado medalha de ouro na categoria, o que reacendeu o debate sobre testes de gênero e critérios de participação em esportes femininos.
Imane Khelif é intersexo?
Após a circulação de informações equivocadas de que Imane Khelif seria biologicamente homem, especialistas e autoridades se manifestaram para esclarecer o caso.
Em entrevista ao ‘Estadão’, a endocrinologista Luciana Barros Oliveira, integrante do Departamento de Endocrinologia Básica da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), explicou:
“Existem condições médicas chamadas diferenças do desenvolvimento sexual, popularmente conhecidas como intersexo. Apesar de a pessoa mencionada ter essas características, ela não é homem”.
Segundo a médica, em situações de intersexo ou em determinados distúrbios endócrinos, não é correto afirmar que a pessoa seja homem apenas por fatores hormonais ou genéticos.
“Ela pode ter sido criada como mulher e possuir identidade feminina”, completou.
Durante coletiva, o porta-voz do Comitê Olímpico Internacional (COI), Mark Adams, também reforçou: “A atleta nasceu mulher, foi registrada como mulher, viveu sua vida como mulher e competiu como mulher”. Ele ressaltou ainda que “este não é um caso transgênero”.