O que era silêncio virou voz coletiva. A empreendedora e professora de inglês Bruna de Ornelas, 33 anos, encontrou na criação do Girl Talk Club a resposta para experiências de violência e homofobia vividas no passado.
A comunidade, que começou como um espaço de troca entre mulheres em redes sociais, hoje reúne encontros presenciais, clubes temáticos e oficinas que unem acolhimento, aprendizado e escuta ativa.
Bruna, que cresceu no Campo Limpo, periferia de São Paulo, foi alfabetizada em inglês pela mãe, uma professora que transformou exploração em carreira própria.
Anos depois, já formada em Negócios Internacionais e certificada pela Universidade de Cambridge para ensinar adultos, Bruna viveu um episódio marcante de homofobia em um condomínio onde morava com a esposa e a filha pequena. O caso a levou a um período de depressão profunda e de dificuldades profissionais.
Do fundo do poço nasceu a ideia de criar um espaço que fosse o contrário do silenciamento: um lugar onde mulheres pudessem falar, aprender e reaparecer. Assim nasceu o Girl Talk Club, hoje com uma proposta decolonial, feminista e de perspectiva de gênero.
“Muitos dos métodos de inglês existentes lucram com o erro do aluno, fazem ele acreditar que não merece aprender. Eu queria criar algo diferente. O Girl Talk não é só uma comunidade de estudo, mas um espaço onde as mulheres podem reaprender a falar sem medo, compartilhar dores e encontrar pertencimento”, afirma Bruna.
A estética hiperfeminina, com rosa chiclete, flores e diários, é parte da ironia: ressignificar a expressão “girl talk” — tradicionalmente usada de forma pejorativa como “papo de mulherzinha” — e transformá-la em bandeira de autonomia.
Além das atividades gratuitas, o Girl Talk Club oferece oficinas e clubes fechados de temas diversos, como literatura, cinema, arte, troca de cartas e negócios, com valores simbólicos a partir de R$ 10. A proposta é sustentar a comunidade sem abrir mão do acesso inclusivo.
Papo de Mulherzinha
Além da fundadora, o Girl Talk já começa a deixar marcas em quem participa. Um exemplo é a Bruna Lucas, xará de Bruna de Ornelas, o que às vezes causa confusão divertida dentro da comunidade.
Ela conheceu o projeto após um post no LinkedIn sobre linguagem e humor da nova geração, em que comentava a tendência de escrever apenas em letras minúsculas.
“A Bruna de Ornelas me chamou porque disse que tinha tudo a ver com o que ela acreditava também, que dá para crescer na carreira e ter autoridade mesmo com um comportamento não padrão”, conta.
A partir desse primeiro contato, Bruna Lucas foi acolhida no Girl Talk e hoje atua como moderadora do clube de negócios da comunidade – tudo à distância, já que mora na cidade de Florianópolis (SC).
“É muito lindo ver esse espaço crescer. A gente sente que dá para se destacar sem precisar se moldar ao que o corporativo tradicional exige”, afirma.
O depoimento ilustra bem o espírito do projeto: mais do que ensinar inglês ou organizar oficinas, o Girl Talk cria outras formas de estar no mundo profissional e pessoal, em que vulnerabilidade, autenticidade e pertencimento não são obstáculos, mas caminhos para liderar.
Sobre Bruna de Ornelas
Bruna de Ornelas é empreendedora, professora de inglês e fundadora do Girl Talk Club. Formada em Negócios Internacionais e certificada por Cambridge, é casada legalmente desde 2018 e mãe de Valentina.
Sua trajetória pessoal e profissional é marcada pela luta contra a homofobia, pelo resgate da autoestima de mulheres e pela crença de que o idioma pode ser uma ferramenta de libertação.