A morte do jovem Fernando Vilaça da Silva, de apenas 17 anos, ocorrida na zona leste de Manaus, não foi um ato de violência isolado. Foi uma execução simbólica do ódio. Depois de ser chamado de “viadinho”, Fernando reagiu — e foi atacado por dois adolescentes não identificados, apanhando em via pública até desmaiar. Levado com traumatismo craniano, hemorragia intracraniana e edema cerebral, ele faleceu três dias depois de sua internação. Relatórios médicos apontam que o óbito foi causado por lesão contundente na cabeça, reforçando o caráter homofóbico do crime.
Erika Hilton (PSOL-SP), que acompanha cuidadosamente o caso, interpreta o episódio como “reflexo da violência estrutural imposta ao povo LGBTQIA+ no Brasil”. Segundo ela, a morte de Fernando é um grito que exige políticas públicas — não apenas investigações pontuais.
Erika Hilton vai além do luto: exige compromisso institucional
Na última segunda-feira, 7 de julho, a deputada protocolou no Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) um requerimento formal. A mensagem foi clara: ela exigiu que o ministério acompanhe todo o processo investigativo, até que os responsáveis sejam identificados e levados à justiça. Ela destacou como “revoltante” o fato de pessoas ligadas aos agressores terem registrado vídeos no velório, como se fosse uma celebração mórbida.
Ao declarar que “o crime não será esquecido”, Erika também ofereceu seu mandato à família de Fernando como instrumento de solidariedade política e jurídica. Ela reafirmou seu compromisso com a defesa dos direitos das pessoas LGBTQIA+ e prometeu pressionar até que haja uma resposta institucional clara.
Apelo por justiça: o papel do Estado e a resposta da sociedade civil
O MDHC reagiu rapidamente, emitindo nota nos dizendo que considerava o crime um ataque aos pilares da dignidade humana, da igualdade e da liberdade. O ministério garantiu que estaria acompanhando o caso em conjunto com a Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos.
No Amazonas, a Ordem dos Advogados – Seccional Amazonas (OAB‑AM) também condenou o caso com veemência. Em comunicado da Comissão de Direitos Humanos, classificou a morte como consequência direta da LGBTfobia, exigindo uma investigação ágil e exemplar — como forma de sinalizar que crimes homofóbicos não serão tolerados.
A história de Fernando: a justiça interrompida de um adolescente com futuro
Apesar da tragédia, os relatos da família pintam o que Fernando poderia ter sido: um estudante tranquilo, devotado aos estudos, que ajudava os irmãos em casa e sonhava com a habilitação. Ele não chegou a sair para comprar o leite que a mãe havia pedido — voltou correndo ao sentir que havia perigo. Foi um chute certeiro na cabeça, segundo testemunhas, que custou sua vida e deixou um vazio irreparável para quem o conhecia.
Sua tia, Klíssia Vilaça, descreveu com desgosto como o bullying já era recorrente. Fernando, sempre silencioso, virou alvo por desafiar o preconceito, mesmo sendo um jovem que jamais provocou qualquer conflito. O sentimento é de raiva — e de urgência por justiça.
Conexão com o leitor: quem Fernando representava e por que importa
Você talvez não tenha sido chamado de “viadinho”, mas pense na quantidade de pequenas humilhações cotidianas que muitos jovens enfrentam. Agora imagine que uma destas provocações — feita rotineira e sem consequência — resultou em algo definitivo. Para familiares e amigos, Fernando não é apenas estatística. Ele era estudante, filho, futuro motorista. E desapareceu na esquina de casa.
Quando disse “o país que ainda tolere a morte de corpos LGBTQIA+ será cobrado”, Erika Hilton falou para você, que deseja um Brasil justo e seguro. Nada no crime de Fernando foi acidental. É assim que nasce um pacto coletivo: reconhecer que a omissão também mata.
O que virá a seguir? Cenários que exigem ação agora
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Investigação rigorosa: Os dois adolescentes suspeitos estão identificados, mas foragidos. A pressão pública e midiática deve garantir prioridade no caso.
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Futuro do MP: Advogados e movimentos LGBTQIA+ estão acompanhando, alertando que trata-se de homofobia com caráter qualificado.
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Educação e prevenção nas escolas: O país precisa urgentemente construir currículos que transformem o preconceito em compreensão — antes que a próxima vítima seja também a última a se revoltar verbalmente.
Um testemunho que não pode se apagar
A luta de Erika Hilton por Fernando resume-se numa frase dura e justa: “a morte desse jovem não será esquecida”. O país que aceita o assassinato de uma pessoa por quem ela ama está em dívida com o passado e o presente.
Essa reportagem não quer deixá-lo confortável com a tragédia. Quer que reflita. Que sinta empatia pelo lugar de cada corpo que, num momento breve, é diminuído. A deputada não trabalha para matar dúvidas, mas para não silenciar quem grita por justiça — e para que, pelo menos, quando o Congresso falhar, a solidariedade tome a frente da história.
Se a investigação vai resultar em culpados atrás das grades ou um novo plano nacional de enfrentamento à LGBTfobia, a resposta depende de um sinal coletivo: de que o Brasil não aceita mais mortes motivadas pelo ódio — seja nos becos ou nas ruas, mas sobretudo na indiferença da impunidade.