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Cientistas desafiam regra da química com molécula de 20 elétrons

Descoberta rompe a tradicional "regra dos 18" e pode revolucionar o desenvolvimento de catalisadores sustentáveis

Uma descoberta inédita feita no Japão pode redefinir os limites da química organometálica. Pesquisadores do Instituto de Ciência e Tecnologia de Okinawa (OIST) conseguiram sintetizar uma molécula com 20 elétrons de valência, desafiando a tradicional “regra dos 18”, considerada um dos pilares da estabilidade eletrônica em compostos metálicos.

A pesquisa, publicada na revista ‘Nature Communications’ no dia 7 de julho, contou com a participação de especialistas da Alemanha e da Rússia. A equipe criou um derivado estável de ferroceno, uma molécula amplamente utilizada em sensores, dispositivos eletrônicos e até em medicamentos.

O que torna essa molécula tão especial?

A regra dos 18 elétrons, que norteia a química dos compostos organometálicos desde os anos 1950, afirma que moléculas com 18 elétrons de valência tendem a ser as mais estáveis. Essa norma foi a base para a descoberta do ferroceno original, em 1951, cuja importância rendeu o Prêmio Nobel de Química em 1973.

Agora, os pesquisadores demonstram que é possível ultrapassar esse limite!

Mostramos pela primeira vez que é possível sintetizar um derivado estável de ferroceno com 20 elétrons e estes dois elétrons de valência adicionais induziram propriedades com potencial para aplicações futuras”, afirmou o químico Satoshi Takebayashi, autor principal do estudo.

Como foi possível romper essa barreira?

O avanço só foi possível graças a uma nova estratégia de ligação química. A estrutura preserva o clássico formato de “sanduíche” dos metalocenos – dois anéis de ciclopentadienil unidos por um átomo de ferro central. No entanto, o diferencial está na adição de uma ligação ferro-nitrogênio, responsável por acomodar os dois elétrons extras e manter a estabilidade do sistema.

Essa modificação alterou o comportamento eletrônico da molécula, permitindo novos estados de oxidação e, consequentemente, ampliando suas possibilidades de aplicação.

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Foto: Pixabay

Caminhos para tecnologias mais sustentáveis

De acordo com os autores, controlar cargas além do limite tradicional pode abrir espaço para o desenvolvimento de catalisadores mais eficientes e ambientalmente amigáveis. A manipulação de propriedades eletrônicas em estruturas como essa pode gerar compostos com funções ajustáveis, algo essencial em setores como a produção de energia limpa e a química de precisão.

Compreender como expandir as fronteiras da estabilidade eletrônica é essencial para o desenvolvimento de catalisadores verdes”, reforçam os cientistas.

Catalisadores verdes, ou sustentáveis, são substâncias que aceleram reações químicas de forma mais eficiente, limpa e ecológica, gerando menos resíduos e consumindo menos energia em comparação com os catalisadores convencionais.

Um novo capítulo na ciência dos materiais

A criação dessa molécula “impossível” mostra que as regras da química não são inquebráveis, mas sim pontos de partida para inovações. A descoberta representa um passo significativo para a ciência dos materiais, com impactos potenciais em diversas áreas tecnológicas.

Com esse avanço, a equipe do OIST inaugura uma nova etapa na exploração de compostos metal-orgânicos, sugerindo que há muito mais a ser descoberto além do que se acreditava ser o limite da estabilidade molecular.

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