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Chupetas viram tendência entre adultos para aliviar estresse

Fenômeno popular na China e nos EUA associa o uso do acessório ao conforto da infância, mas psicólogos e dentistas apontam efeitos negativos do hábito

Em meio a um cenário de pressão constante, instabilidade econômica e ansiedade crescente, um novo e curioso hábito vem chamando atenção: adultos usando chupetas como forma de aliviar o estresse, melhorar o sono e até ajudar na abstinência do cigarro.

A prática, antes restrita à primeira infância, já é vista em países como China e Estados Unidos, especialmente entre a geração Z, que busca refúgio em objetos associados ao conforto emocional e à nostalgia.

Além das chupetas, outros itens “infantis” têm conquistado espaço no cotidiano adulto, como bebês reborn, bonecos Labubu e livros de pintura Bobbie Goods. Segundo especialistas, esse movimento pode estar ligado ao fenômeno psicológico da regressão, no qual o indivíduo retoma comportamentos de fases anteriores da vida em busca de segurança.

“Psicologicamente, trata-se de um comportamento infantil que, no nível inconsciente, simboliza fuga da realidade e da fase adulta, revelando também o desejo de evitar obrigações e responsabilidades — que, no entanto, não deixarão de existir”, explica o psicólogo Alexander Bez em entrevista.

Mercado e adesão nas redes sociais

De acordo com o ‘South China Morning Post’, as chupetas para adultos, feitas de silicone ou borracha, são vendidas por valores que variam de R$ 8 a R$ 350 (na conversão direta) em plataformas de e-commerce.

Nas redes sociais, usuários publicam vídeos mostrando o uso do acessório no trânsito, no trabalho e até em crises de burnout, muitas vezes customizadas com adesivos, pedrarias e miçangas.

chupeta - criança
Foto: Çiğdem Onur/Pixabay

O que dizem os especialistas?

Apesar da popularidade, médicos, psicólogos e dentistas alertam que a prática pode trazer riscos físicos e emocionais.

O dentista Tang Caomin, de Chengdu (China), afirma que chupar chupeta por mais de três horas por dia pode provocar movimentação dentária e até risco de inalação de peças durante o sono.

“O potencial dano causado pelas chupetas à boca dos clientes é intencionalmente minimizado pelos vendedores”, destaca.

Já o psicólogo Zhang Mo alerta que a chupeta pode ser uma forma de evitar o enfrentamento das causas reais do estresse“A verdadeira solução não é se tratar como uma criança, mas encarar o desafio diretamente e resolvê-lo.”

Bez reforça que técnicas de respiração, atividade física regular, terapia e momentos de lazer saudáveis são alternativas comprovadas para aliviar tensões, sem recorrer a comportamentos regressivos.

chupeta
Foto: Franco_A_Guaraldo/Pixabay

Infância como refúgio

O uso de itens nostálgicos não se limita às chupetas. Bichinhos de pelúcia, antes guardados, agora são exibidos como chaveiros em bolsas e mochilas. Entre eles, destacam-se os Labubus, figuras de pelúcia com orelhas pontudas e sorriso travesso, frequentemente personalizadas com miniacessórios.

Para especialistas, o apelo emocional é claro, mas a eficácia como ferramenta contra o estresse é limitada: “Em adultos, é uma conduta abstrata e surreal, sem qualquer efeito psicoterapêutico”, conclui Bez.

Maysa Vilela

Jornalista curiosa por natureza, com mais de 10 anos de estrada, movida por conexões fortes, viagens e boas histórias. Acredita que ouvir é o primeiro passo pra escrever com propósito. No Ocorre News, segue conectando pessoas através das palavras.

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