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Açaí causa doença de Chagas? Entenda polêmica da COP30

Após veto inicial, organização do evento voltou atrás e liberou pratos típicos da culinária paraense, mas especialistas alertam para riscos de contaminação

A Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2025 (COP30), que acontece em novembro em Belém do Pará, foi palco de uma polêmica envolvendo a gastronomia local. Um edital publicado pela Organização dos Estados Ibero-americanos (OEI) havia proibido a oferta de pratos tradicionais como açaí, tucupi e maniçoba, sob justificativa de risco de contaminação. Após repercussão negativa, o documento foi corrigido e a presença desses alimentos está novamente liberada – com exceção do açaí e tucupi in natura, além da maniçoba, que permanecem vetados.

O veto inicial foi criticado por representantes do governo federal e pela comunidade gastronômica paraense. O ministro do Turismo, Celso Sabino, articulou junto à OEI para garantir a presença dos pratos típicos na COP30. Em errata publicada no sábado (16), a organização confirmou a liberação, destacando a valorização da agricultura familiar e de empreendimentos locais, como cooperativas e comunidades tradicionais.

Mesmo com a revisão, o documento manteve a restrição a alimentos considerados de maior risco de contaminação, especialmente pelo Trypanosoma cruzi, protozoário transmissor da doença de Chagas.

Açaí pode mesmo transmitir doença de Chagas?

De acordo com estudo publicado em 2020 na revista ‘Clinical Infectious Diseases’ por pesquisadores da Universidade Federal do Acre (Ufac), cerca de 70% dos casos recentes da doença de Chagas podem estar relacionados ao consumo de alimentos contaminados, incluindo o açaí.

“No passado era mais a picada do mosquito, agora é mais por ingestão de alimento contaminado, em especial, o açaí. Mas também, cana de açúcar, sucos e outros alimentos”, explicou o professor Odilson Silvestre, líder da pesquisa.

Segundo ele, o risco está no processamento da fruta, geralmente feito à noite, quando o inseto transmissor pode contaminar o ambiente. A forma mais eficaz de prevenção é o branqueamento, processo em que o fruto é aquecido a 80ºC por 10 segundos e depois resfriado, eliminando qualquer possibilidade de contaminação.

“É importante que as pessoas entendam que o açaí pode conter sim o ‘Trypanosoma cruzi’, o protozoário que causa a doença”, alertou Silvestre.

Veja uma foto de Belém do Pará, cidade sede da COP30:

Belém-do-Pará
Foto: Reprodução/TV Brasil

O que é a doença de Chagas?

A doença de Chagas é causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi e pode ser transmitida de duas formas principais:

  • Vetorial: pela picada do inseto conhecido como barbeiro;

  • Oral: pela ingestão de alimentos contaminados.

Os sintomas iniciais incluem febre prolongada, dor de cabeça, fraqueza intensa e inchaço no rosto e nas pernas. Sem tratamento adequado, a doença pode evoluir para a forma crônica, com riscos de complicações cardíacas e digestivas.

“O açaí é seguro para consumo quando higienizado corretamente. O problema está apenas no processamento inadequado”, reforçou o cientista em entrevista.

Reações e críticas

O veto gerou forte reação entre chefs e produtores locais. O chef Saulo Jennings, fundador do restaurante Casa do Saulo e embaixador gastronômico da ONU Turismo, foi um dos mais críticos:

“É um crime contra nosso povo, contra a nossa gastronomia, contra a comida que alimentou nossa ancestralidade toda”, afirmou em suas redes sociais.

Para ele, a COP30 representa uma oportunidade de fortalecer o turismo gastronômico na região: “Quem vier e comer, vai sair daqui apaixonado”.

A seleção das empresas que irão operar os restaurantes da COP30 ainda está em andamento. Segundo a OEI, ao menos 30% dos insumos adquiridos deverão vir da agricultura familiar.

A organização também reforçou que as restrições se aplicam apenas aos espaços oficiais da conferência, não afetando bares, restaurantes e feiras da cidade de Belém.

Nesta terça-feira (19), foi realizada uma audiência pública para ouvir os candidatos à operação de alimentação no evento que deve receber visitantes do mundo todo.

Maysa Vilela

Jornalista curiosa por natureza, com mais de 10 anos de estrada, movida por conexões fortes, viagens e boas histórias. Acredita que ouvir é o primeiro passo pra escrever com propósito. No Ocorre News, segue conectando pessoas através das palavras.

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