O Exército de Israel anunciou nesta sexta-feira (29) que a Cidade de Gaza passa a ser considerada “uma zona de combate perigosa”, determinando o fim do corredor humanitário criado há cerca de um mês para permitir a entrada de ajuda e a saída de civis.
Segundo comunicado militar, “a partir de hoje, às 10h00 (4h no horário de Brasília), a pausa tática local nas atividades militares não se aplicará à área da Cidade de Gaza, que passa a constituir uma zona de combate perigosa”.
A medida representa mais um passo na estratégia israelense de conquistar gradualmente os principais redutos do grupo Hamas, considerado terrorista por Israel, EUA e União Europeia.
Recuperação de reféns e avanço militar
Ainda nesta sexta-feira, Israel informou ter recuperado o corpo do refém Ilan Weiss durante operação realizada no dia anterior. As forças armadas também disseram ter encontrado “evidências relacionadas a outro refém morto”, não identificado.
O governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu estima que cerca de 50 reféns israelenses ainda estejam em Gaza, dos quais aproximadamente 20 estariam vivos.
População sob risco e apelos internacionais
A Cidade de Gaza, que abriga cerca de um milhão de palestinos, segundo a ONU, tornou-se destino de milhares de deslocados internos desde o início da guerra, há quase dois anos.
O secretário-geral das Nações Unidas, Antonio Guterres, alertou que uma ofensiva em larga escala poderia gerar “consequências catastróficas”.
Nos últimos dias, Israel intensificou os apelos para que a população evacue a área.
De acordo com o porta-voz militar Avichay Adraee, famílias que se deslocarem para o sul receberão “a maior assistência humanitária possível”, incluindo acesso a tendas, centros de distribuição de alimentos e rede de água.
Apesar das orientações, líderes religiosos afirmaram que permanecerão na cidade, alegando que a fuga equivaleria a “nada menos que uma sentença de morte”.
Crise humanitária e denúncias de possíveis crimes de guerra
Imagens divulgadas pela agência ‘AFP’ mostram longas filas de veículos carregados de colchões e pertences pessoais deixando a cidade. A ONU advertiu que o deslocamento forçado em massa pode configurar crime de guerra.
Relatórios recentes da organização apontaram que a região enfrenta fome generalizada, sendo o primeiro registro desse tipo no Oriente Médio.
O número de palestinos mortos em Gaza ultrapassa 60 mil, segundo dados de autoridades palestinas.
Intensificação dos combates e posição internacional
A Cidade de Gaza tem sido alvo de bombardeios constantes desde o início do conflito, com ataques intensificados após a aprovação, em agosto, dos planos israelenses de tomada da região.
Tanques e tropas avançam sobre bairros periféricos, como Ebad-Alrahman e Zeitoun, onde moradores relataram ofensivas pesadas.
Enquanto isso, países da comunidade internacional e o papa Leão XIV apelaram por um cessar-fogo imediato. O Hamas declarou que a estratégia de Israel representa um “desrespeito flagrante” aos esforços de mediação conduzidos por Egito e Catar.
Netanyahu, entretanto, reafirmou que a meta é a “vitória total” e a libertação de todos os reféns, afirmando que tomará a Faixa de Gaza independentemente de negociações.
Próximos passos da ofensiva
Segundo o governo israelense, a operação em Gaza será “progressiva, precisa e seletiva”, podendo se estender até 2026. O Exército convocou mais de 60 mil reservistas para reforçar a ação, considerada o maior movimento militar desde o início da guerra.
O ministro da Defesa, Israel Katz, já havia advertido que a cidade seria destruída caso o Hamas não aceitasse as condições de Israel para encerrar o conflito.
