Um novo estudo da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), com base em dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), do Ministério da Saúde, aponta um cenário alarmante: a cada 10 minutos um adolescente tenta tirar a própria vida ou pratica autolesão no Brasil.
Segundo a análise, divulgada nesta segunda-feira (22), a média diária chegou a 137 atendimentos de jovens entre 10 e 19 anos apenas nos últimos dois anos.
Os registros são compulsórios, ou seja, profissionais de saúde são obrigados a notificar os casos. No entanto, especialistas alertam para a possibilidade de subnotificação devido a falhas de preenchimento ou comunicação.
Mil mortes por ano entre adolescentes
Além dos atendimentos, o levantamento revela que cerca de mil adolescentes morrem por suicídio a cada ano no país.
Para a médica Renata Waksman, presidente do Departamento Científico de Prevenção e Enfrentamento das Causas Externas na Infância e Adolescência da SBP, o suicídio é resultado de um processo de sofrimento psíquico.
“Estar atento a mudanças bruscas de comportamento dos jovens é fundamental, pois elas costumam ser os sinais de alerta mais claros”, afirma ela em entrevista ao portal ‘G1’.
Diferenças regionais
O estudo também mostra variações regionais nos atendimentos relacionados à saúde mental. Em números absolutos, o Sudeste concentrou quase metade das notificações nacionais entre 2023 e 2024, somando 46.918 registros.
O Sul aparece em segundo lugar, com 19.653 casos, seguido pelo Nordeste, com 19.022 notificações.
Principais sinais de alerta
Segundo especialistas, alguns indícios comuns antecedem tentativas de suicídio, como:
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Tristeza ou insatisfação persistente;
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Abandono de atividades prazerosas;
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Episódios de autolesão;
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Envolvimento em situações de risco;
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Ausência de planos ou expectativas para o futuro.
Waksman ressalta que a adolescência é marcada por transformações intensas, vulnerabilidade emocional e maior exposição a pressões externas.
Nesse contexto, problemas como ansiedade e depressão têm crescido entre crianças e adolescentes.
“Os jovens têm uma grande necessidade de aceitação social, o que os torna mais vulneráveis. Por ser um período crítico e muitos transtornos começarem antes dos 14 anos, grande parte não seja identificada ou tratada”, analisa.
O papel da família e da escola
A SBP destaca que fatores como sobrecarga familiar, falta de acompanhamento médico e riscos do ambiente digital impactam diretamente a saúde mental dos adolescentes.
O presidente da entidade, Edson Liberal, reforça a importância da atenção dos adultos ao redor dos jovens:
“Muitas vezes, as autoagressões representam um pedido silencioso de ajuda. Diante dos desafios do dia a dia, é fundamental que pais, responsáveis e educadores escutem e, sobretudo, acolham os adolescentes”.
Peça ajuda. Você não está sozinho!
Se você está passando por um momento difícil, tem pensamentos suicidas ou vontade de se automutilar, peça ajuda — você não está sozinho.
Ligue para o Centro de Valorização da Vida (CVV) — 188. É um serviço gratuito e disponível 24 horas por dia, com voluntários capacitados para ouvir sem julgar, acolher e orientar sobre próximos passos. A conversa é confidencial.
Se estiver em perigo imediato, procure atendimento médico. Ligue para o SAMU — 192 ou vá ao pronto-socorro mais próximo. Fale também com alguém de confiança (família, amigo, professor) e procure um profissional de saúde mental quando possível.
