A trend ‘Mostre a todos o quão alto você é’ conquistou as redes sociais e chegou até a mobilizar atletas da Seleção Brasileira de vôlei. A proposta é simples: participantes inserem sua foto em um gráfico onde o eixo y representa a altura em centímetros. O resultado gera comparações curiosas entre tamanhos, mas por trás da diversão existe um erro grave de matemática.
O erro na escala
O problema surge quando o gráfico não começa no zero, mas sim em 1,40 m. Isso causa distorções na comparação. No exemplo:
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Um homem de 1,60 m aparece no quarto “risquinho” do eixo y.
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Uma mulher de 1,80 m surge na oitava marca.
À primeira vista, o gráfico sugere que ela teria o dobro da altura dele. No entanto, isso só seria verdadeiro se suas medidas fossem 1,60 m e 3,20 m.
“Seria o equivalente a um gráfico de barras, em que comparamos comprimentos. O principal é: o eixo vertical precisa sempre começar do zero. O da trend já parte de 1,40 — por isso, leva a distorções”, explica Fernanda Peres, especialista em estatística aplicada, em entrevista ao portal ‘G1’.
Confira:

Risco além da brincadeira
Apesar de ser apenas uma trend, a lógica equivocada pode ser usada em contextos sérios para manipular informações.
“Em eleição, já vi candidato postando gráfico que não começa do zero e distorce a realidade”, afirma Peres.
“Essa alteração pode fazer com que um aumento de 2% na intenção de votos pareça algo muito maior. Se a pessoa não prestar atenção, vai ser influenciada por isso.”
Outro detalhe que engana
Há ainda um segundo erro: ao redimensionar a imagem da pessoa mais alta, a trend amplia tanto a altura quanto a largura. Esse ajuste deixa a foto mais estética, mas cria uma comparação desproporcional.
Em gráficos de barras, por exemplo, barras mais largas transmitem a impressão de números muito maiores, mesmo que o valor real seja próximo.
Como corrigir
Para evitar distorções, especialistas apontam duas medidas simples:
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Começar o eixo y no zero, e não em 1,40 m;
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Esticar apenas na vertical a foto, sem alterar a largura.
“São detalhes que, vistos na internet, podem passar batido. Dependendo do contexto, a pessoa acaba correndo o risco de ser influenciada”, reforça Fernanda Peres.
“E mais: o Enem gosta bastante de análise descritiva de gráficos”, acrescentou ela sobre a importância de os estudantes ficarem ligados nessa questão da escala dos gráficos.