As redes sociais deixaram de ser apenas espaços para compartilhar fotos ou vídeos. Hoje, funcionam como máquinas de recomendação altamente sofisticadas, que utilizam algoritmos para monitorar interações e moldar o que aparece nas telas dos usuários.
A repórter Isa Brittis saiu às ruas para conversar com pessoas sobre a influência dos algoritmos nos gostos e hábitos de consumo dos brasileiros.
Fenômenos recentes das redes sociais, como o Labubu, Morango do Amor e Bobbie Goods, conquistaram milhões de pessoas de todas as idades, despertando gostos e transformando produtos em verdadeiros objetos de desejo online.
O grande responsável por espalhar tendências, como as citadas acima, entre milhões de pessoas é o algoritmo das redes sociais. Esses sistemas analisam curtidas, comentários, tempo de visualização e até deslizes de tela, organizando o feed de forma a manter o público conectado pelo maior tempo possível.
O que dizem os usuários
Em entrevistas realizadas pela repórter Isa Brittis, pessoas abordadas nas ruas compartilharam diferentes pontos de vista sobre a influência dos algoritmos em seus gostos.
Alguns relataram sentir que as plataformas apenas reforçam preferências já existentes, enquanto outros acreditam que o sistema é capaz de moldar totalmente aquilo que os usuários passam a consumir. Também houve quem destacasse a insistência dos algoritmos em empurrar conteúdos populares, mesmo quando o interesse inicial não era evidente.
Confira o conteúdo completo assistindo o vídeo abaixo:
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Labubu: o boneco colecionável que virou fenômeno global
O Labubu é um boneco colecionável criado pelo artista de Hong Kong Kasing Lung e lançado pela fabricante chinesa Pop Mart. Parte da série ‘The Monsters’, o personagem de traços lúdicos e aparência entre fofa e monstruosa rapidamente se transformou em um fenômeno global.
Apesar de o nome não ter significado próprio, o Labubu se consolidou como marca e objeto de desejo entre colecionadores. A escassez dos produtos aumenta ainda mais a procura, gerando até uma sensação de conquista entre fãs que conseguem adquiri-los em meio à forte concorrência.
No mercado global, o preço dos Labubus apresenta grande variação. Enquanto versões simples, como pelúcias e chaveiros, podem ser encontradas entre R$ 80 e R$ 300, os modelos originais ultrapassam facilmente a marca de R$ 1.000.
Já em plataformas internacionais de revenda, edições raras chegam a ser negociadas por mais de US$ 3.000 — o equivalente a cerca de R$ 16 mil.
O sucesso foi tão grande que ajudou a triplicar os lucros da Pop Mart no último ano e é apontado por especialistas como exemplo de como a cultura pop chinesa ganhou novo fôlego no cenário internacional após a pandemia e os atritos com o Ocidente.

Morango do Amor: doce que conquistou as redes sociais
O Morango do Amor, doce feito com morango inteiro envolto em brigadeiro branco e coberto por uma camada crocante de calda de açúcar vermelha, tornou-se a mais recente febre das redes sociais. O sucesso digital fez a procura disparar: segundo a ‘CNN Brasil’, os pedidos pelo doce cresceram 2.300% após a viralização.
A tendência movimentou o mercado da confeitaria. Em São Paulo, a sobremesa é vendida entre R$ 20 e R$ 30, gerando filas e encomendas para quem deseja experimentar a iguaria que ganhou fama online.
O fenômeno chegou até ao universo das versões de luxo. O artista plástico e confeiteiro maranhense Denilson Lima criou uma edição especial dos famosos Morangos do Amor que custa a bagatela de R$ 2.300.
A caixa traz nove morangos cobertos por cremes de sabores variados — ninho, brigadeiro ao leite ou maracujá —, finalizados com a tradicional casquinha de açúcar e decorados manualmente com açúcar confeiteiro e glacê. A procura foi tão alta que houve lista de espera para adquirir o produto exclusivo.
O crescimento repentino e avassalador ilustra como o poder do algoritmo pode transformar um doce tradicional em um fenômeno de consumo nacional.

Bobbie Goods: quando o simples ato de colorir vira tendência
Outra tendência que se espalhou pelas redes sociais e fez muita gente adquirir o hábito de colorir desenhos, mesmo depois de adultos, foi o Bobbie Goods. Trata-se de uma série de livros para colorir que trazem ilustrações fofinhas com ursos e cachorros.
Criado em 2021 nos Estados Unidos pela designer e ilustradora norte-americana Abbie Goveia, o Bobbie Goods se tornou uma febre avassaladora em vários países, inclusive no Brasil. A criadora contou em entrevista à ‘CNN’ que nunca esperou que se os livros se conectassem com tantas pessoas ao redor do mundo.
“Frequentemente, ilustrava pequenos momentos da minha própria vida. Com o tempo, percebi que esses desenhos do cotidiano transmitiam algo muito doce e cativante”, disse ela.
Mostrando o poder do algoritmo, a viralização das ilustrações de Bobbie Goods nas redes sociais despertou em muitas pessoas o hábito de colorir desenhos como forma de lazer e ferramenta para aliviar o estresse do dia a dia.
Casos como o sucesso repentino de Labubu, Morango do Amor e Bobbie Goods ilustram como conteúdos impulsionados pelos algoritmos podem rapidamente se tornar objetos de desejo, impactar decisões de compra e moldar hábitos e estilos de vida de tanta gente no mundo todo.

Como o algoritmo manipula comportamentos
Estudos apontam que o feed das redes não é espontâneo, mas resultado de técnicas avançadas de engenharia comportamental. Entre as estratégias mais utilizadas estão:
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Recomendação personalizada: conteúdos ajustados ao histórico de interações.
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Efeito bolha: reforço de preferências, reduzindo contato com opiniões divergentes.
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Amplificação viral: priorização de tendências e desafios populares.
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Design persuasivo: rolagem infinita, notificações e vídeos automáticos para aumentar o tempo de uso.
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Publicidade segmentada: anúncios direcionados com base em dados de navegação e perfil demográfico.
O desafio para os usuários
A grande questão levantada é se os usuários realmente apreciam o que desejam por vontade própria ou se acabam gostando do que lhes é mostrado de forma repetitiva.
Seja ao reforçar interesses já conhecidos ou ao impulsionar novas tendências, os algoritmos continuam a moldar a maneira como as pessoas consomem informação, entretenimento e produtos, e muitos sequer se dão conta disso.