A influenciadora digital Júlia Pimentel, de apenas 16 anos, conquistou uma vaga em Medicina no Instituto de Educação Médica (Idomed), faculdade privada do Rio de Janeiro cuja mensalidade é de R$ 16.253,00. O feito, no entanto, gerou polêmica nas redes sociais após a jovem divulgar sua redação — escrita em primeira pessoa — que acabou viralizando.
Com mais de 3 milhões de seguidores no TikTok, Júlia apagou o vídeo em que mostrava a prova, mas não escapou das reações. Entre comentários de apoio e críticas, usuários ironizaram:
“Para, gente, ela achou que era legenda para foto do Instagram” e “Você usou o ChatGPT Free ou pago?”.
O tema da redação e a escolha pela 1ª pessoa
O vestibular on-line propôs a reflexão: “Qual marca da sua personalidade ninguém roubará de você? Por quê?”. A orientação exigia um texto dissertativo-argumentativo, mas sem especificar a forma de abordagem.
Júlia optou por desenvolver o tema em primeira pessoa, defendendo a determinação como sua característica mais marcante:
“Desde situações do dia a dia até desafios maiores, a determinação sempre esteve presente em minhas escolhas. Ela me impulsiona a continuar tentando, mesmo quando as circunstâncias parecem desfavoráveis”.
A escolha dividiu opiniões. “Só a 1ª pessoa daria conta deste tema”, afirma a professora Margarete Xavier, do Fibonacci Educação. Já Daniela Toffoli, do Curso Anglo, acredita que o formato se aproximava mais de uma carta de apresentação do que de uma dissertação tradicional.
O debate acadêmico: erro ou inovação?
Especialistas ouvidos pelo portal ‘G1’ avaliam que o caso expõe um choque de expectativas entre modelos de vestibular. Enquanto o Enem exige dissertações mais objetivas, com referências socioculturais, a Idomed teria buscado uma reflexão pessoal.
“Não dá para se basear no padrão do Enem. Um texto com repertório não necessariamente é mais aprofundado do que um sem”, pontua Marina Rocha, professora do Colégio e Curso AZ.
Para Thiago Braga, do Colégio pH, a redação cumpriu seu papel: “Muitas vezes, a prova focaliza em observar apenas a capacidade de organizar ideias e argumentos em forma de texto”.

Processo menos concorrido, mas ainda seletivo
Outro ponto discutido foi a concorrência da Idomed, considerada bem inferior à de universidades públicas. Enquanto Júlia obteve 30/70 na prova objetiva e quase nota máxima na redação, instituições como a Unicamp chegam a ter mais de 260 candidatos por vaga.
Mesmo assim, a influenciadora defende sua conquista: “O vestibular, com certeza, é um nível mais fácil. Mas não é simplesmente assim, pagou, passou. Você tem que passar por uma seleção”.
Suspeitas de uso de IA
Nas redes, internautas levantaram dúvidas sobre a possibilidade de Júlia ter recorrido a inteligência artificial para escrever o texto. A instituição, porém, garante adotar sistemas de monitoramento por webcam e detecção de plágio.
A própria estudante nega. “Fiquei muito feliz quando falaram que minha redação tinha sido do ChatGPT, porque significa que não tem nenhum defeito. Mas, assim, zero [uso de IA]”, afirmou.
O que diz a Idomed
Em nota, a faculdade reforçou que o tema da redação é elaborado para avaliar clareza, argumentação e pensamento crítico, e que a simplicidade da proposta permite igualdade entre os candidatos:
“O diferencial aparece na profundidade da análise, na organização da argumentação e na qualidade da escrita”, destacou a instituição.
Confira a redação de Júlia Pimentel, na íntegra:
a redação da Júlia pimentel p passar em medicina, tamo perdido pic.twitter.com/QLRAc4TiYB
— caio ༉ (@studiescaio_) August 29, 2025