Pesquisadores chineses criaram uma língua artificial que consegue reconhecer sabores em líquidos de forma semelhante ao paladar humano. A inovação, descrita em um estudo publicado na revista científica ‘Proceedings of the National Academy of Sciences’ (PNAS), tem potencial para ser aplicada em sistemas de segurança alimentar, controle de qualidade e até mesmo em análises de saúde.
Como funciona a língua artificial
A tecnologia foi desenvolvida a partir de membranas de óxido de grafeno e folhas ultrafinas de carbono, materiais conhecidos por alterar sua condutividade elétrica quando entram em contato com substâncias químicas.
Essa característica permite que o sensor identifique variações elétricas provocadas pelos compostos presentes nos líquidos. Para aprimorar a precisão, os cientistas utilizaram técnicas de aprendizado de máquina, simulando o modo como as papilas gustativas humanas reconhecem sabores.
“Esta descoberta nos dá um modelo para a construção de novos dispositivos iônicos bioinspirados. Nossos dispositivos podem funcionar em líquidos, sentir o ambiente e processar informações — assim como nosso sistema nervoso”, explicou o professor de química e coautor do estudo, Yong Yan, em entrevista ao site ‘Live Science’.
Testes e resultados
O dispositivo foi treinado para analisar 160 substâncias diferentes, alcançando precisão entre 75% e 90% na identificação dos sabores.
Segundo os pesquisadores, o sensor conseguiu distinguir os quatro gostos básicos — doce, salgado, azedo e amargo — além de reconhecer bebidas complexas, como o refrigerante Coca-Cola, com 96% de precisão.
“Identificamos diferentes sabores usando um sistema de aprendizado de máquina mais simples: parte computação de reservatório e parte rede neural básica. Ele consegue distinguir com segurança entre sabores complexos como café, Coca-Cola e até mesmo suas misturas”, acrescenta Yong.

Potenciais aplicações
A nova língua artificial poderá ser aplicada em áreas como:
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Segurança alimentar, para detectar contaminações em bebidas e alimentos;
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Controle de qualidade industrial, garantindo padronização de produtos;
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Saúde, auxiliando em diagnósticos e até em pesquisas que buscam restaurar o paladar em pacientes que perderam essa capacidade.
Outra vantagem é que, diferente de versões anteriores, o dispositivo funciona diretamente em ambientes líquidos, processando parte das informações no próprio sensor, sem necessidade de computadores externos.
Limitações e próximos passos
Apesar dos resultados promissores, o projeto ainda está em fase de prova de conceito. O protótipo atual é volumoso, consome muita energia e ainda enfrenta desafios técnicos para ser usado em larga escala.
Mesmo assim, a pesquisa abre caminho para novos dispositivos bioinspirados, que podem transformar tanto a indústria alimentícia quanto a medicina.