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Cães de serviço detectam crises de diabetes antes dos sintomas e salvam vidas no Brasil

Treinados para identificar alterações químicas no corpo humano, esses animais alertam tutores com até 20 minutos de antecedência

Cães de serviço estão revolucionando o acompanhamento de pessoas com diabetes tipo 1 ao detectar crises de glicemia antes mesmo dos primeiros sintomas surgirem. Graças a um olfato extremamente apurado, esses animais são capazes de perceber alterações químicas no corpo humano com até 20 minutos de antecedência, ajudando a evitar quadros graves como convulsões e coma.

Segundo Renata Boragini Rodrigues, treinadora certificada e fundadora da ONG Service Dog Brasil, os cães identificam mudanças no odor exalado pelo tutor por meio do suor, saliva ou hálito.

“Em geral, eles conseguem identificar alterações químicas que interferem no odor exalado pelo tutor de 15 a 20 minutos antes do início dos sintomas”, explica ela, em entrevista ao ‘G1’.

Como os cães de serviço detectam uma crise de diabetes?

Durante episódios de hipoglicemia ou hiperglicemia, o corpo humano libera compostos orgânicos voláteis que formam uma espécie de “assinatura de odor” específica. Essa variação é imperceptível aos humanos, mas facilmente reconhecida pelos cães.

De acordo com o veterinário Bruno Benetti Torres, da Universidade Federal de Goiás, esse é o segredo por trás da habilidade:

“Essas mudanças criam uma assinatura de odor química distinta, imperceptível aos humanos, mas altamente detectável pelos cães. O cão utiliza seu olfato extraordinariamente apurado, que é milhares de vezes mais sensível que o humano”, disse ele ao ‘G1’.

Esses alertas são acionados por comportamentos específicos do cão, como:

  • Tocar o tutor com a pata ou o focinho;

  • Segurar um brinquedo específico na boca;

  • Sentar-se à frente do tutor e rosnar;

  • Latir de forma insistente em casos de emergência.

CÃO DE SERVIÇO
Foto: Reprodução/Instagram/Renato Sá

Treinamento rigoroso garante precisão dos alertas

O processo de preparação de um cão de alerta médico dura de cinco a oito meses e envolve várias etapas. O treinamento geralmente começa ainda na fase de filhote e exige seleção criteriosa do animal.

“A escolha do cão é feita com muito critério, porque temos que ter a sensibilidade de perceber que o cão sente prazer naquilo que está fazendo, sempre visando o reforço positivo”, afirma Renata Boragini.

Durante o treinamento, os cães são expostos a amostras de saliva e suor dos tutores recolhidas durante crises reais, o que permite que associem os odores às emergências.

Embora raças como labradores, golden retrievers e poodles sejam frequentemente escolhidas por sua inteligência e sociabilidade, qualquer cão com o perfil adequado pode ser treinado, mesmo os sem raça definida.

Além dos cães, os tutores também passam por capacitação. Foi o caso da gerente financeira Raphaelle Almada Pinheiro, diagnosticada com diabetes tipo 1, que precisou se adaptar à nova rotina com seu cão de serviço.

“No começo, a adaptação não foi tão simples para mim. Tive que passar por um treinamento e acompanhamento com os treinadores para entender como funciona todo o processo”, relata ao ‘G1’.

Companheiros que salvam vidas e oferecem liberdade

Raphaelle convive com seu cão de serviço há três anos e garante que ele mudou completamente sua vida:

“A convivência com o cão fez toda a diferença na qualidade de vida que tenho hoje. Tenho total controle da glicemia, evitando ter um episódio que possa me trazer problemas graves”, afirma.

Ela se sente mais segura para trabalhar, viajar e manter uma vida social ativa. O animal acompanha sua rotina 24 horas por dia, pronto para alertá-la diante de qualquer sinal de risco.

Histórias de salvamento são frequentes entre os tutores. Renata Boragini relembra um caso emblemático:

“Houve um caso em que o tutor estava viajando e passou mal dormindo. O cão iniciou os protocolos de alerta e, sem sucesso, começou a latir insistentemente, chamando a atenção de funcionários do hotel. Eles se dirigiram ao quarto e encontraram o tutor já desmaiado a ponto de entrar em uma fase crítica”, relata.

Muito além do diabetes: cães também ajudam em outras condições

Os cães de serviço não se limitam ao diabetes. Também podem ser treinados para atuar em crises de epilepsia, episódios de estresse pós-traumático, autismo e outros quadros clínicos complexos, mostrando que o vínculo entre humanos e animais vai muito além do afeto.

Com dedicação e treinamento especializado, esses cães se tornam verdadeiros aliados da saúde, proporcionando segurança, autonomia e qualidade de vida para milhares de pessoas em todo o país.

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