O que começou como mais um dia comum de compras no centro de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, terminou em uma cena de devastação, tensão e indignação coletiva. Um incêndio de grandes proporções tomou conta de um atacadão da rede Tubarão no final da tarde de um domingo movimentado, transformando o local em um epicentro de caos urbano. Em meio às chamas e ao desespero, grupos aproveitaram o momento de fragilidade para promover saques, ampliando a tragédia.
Enquanto bombeiros se revezavam em turnos de contenção do fogo, moradores e curiosos se aglomeravam ao redor. Mas nem todos estavam ali para assistir ou ajudar: vídeos amplamente compartilhados nas redes sociais mostraram pessoas invadindo a loja em chamas, carregando produtos às pressas, como se o fogo justificasse o saque.
As chamas que alimentaram o descontrole
O incêndio começou por volta das 16h40 e rapidamente se alastrou pelo galpão da loja, que vendia móveis, utilidades e eletrônicos. O Corpo de Bombeiros foi acionado imediatamente e precisou mobilizar unidades de diversos quartéis da região. As chamas só foram controladas após quase seis horas de combate intenso, com apoio de viaturas, caminhões-pipa e reforço policial.
Testemunhas relataram momentos de pânico, com fumaça invadindo ruas próximas e clientes sendo retirados às pressas. Apesar da gravidade do incidente, não houve mortes — mas pelo menos quatro pessoas ficaram feridas, incluindo um adolescente de 14 anos, que foi levado ao Hospital Adão Pereira Nunes.
Uma oportunidade para o crime no meio da tragédia
Em meio ao trabalho dos bombeiros e da polícia, a situação fugiu do controle com a invasão da loja por moradores da região. As imagens são estarrecedoras: pessoas correndo com caixas nas mãos, alguns transportando mesas, cadeiras e eletrodomésticos, mesmo com a fumaça densa ao redor e o risco de desabamento.
Para as autoridades, não houve dúvidas: o que ocorreu foi saque, não salvamento de mercadoria. A Polícia Militar teve que reforçar o patrulhamento e agentes da 59ª DP (Caxias) abriram inquérito para identificar os responsáveis. Com ajuda dos vídeos e câmeras de segurança da região, as investigações já estão em andamento.
O impacto direto para a empresa e funcionários
A rede Tubarão lamentou publicamente o ocorrido, classificando o incêndio e os saques como “um dos momentos mais difíceis desde a fundação da marca”. A unidade afetada era, segundo a empresa, a primeira da história da rede, e funcionava como referência logística e afetiva para os colaboradores e para o bairro.
Apesar das perdas materiais, a empresa afirmou que todos os funcionários serão realocados em outras lojas da rede, sem demissões ou cortes de benefícios. O objetivo é preservar os empregos e reconstruir o espaço “com o mesmo compromisso que moveu o nascimento da empresa”, segundo nota oficial.
Feridos e traumas que vão além dos números
Além do adolescente, outras três pessoas ficaram feridas: duas mulheres e uma criança de 13 anos. Todos foram atendidos com urgência e não correm risco de vida. Ainda assim, o trauma causado pela mistura de fogo, correria, violência e insegurança não será esquecido tão cedo pelos moradores da região.
Moradores próximos também reclamaram do cheiro intenso de fumaça, da fuligem que invadiu casas e do medo de que novos tumultos se formassem durante a madrugada.
A fronteira tênue entre vulnerabilidade e oportunismo
O episódio expõe um dilema recorrente em situações emergenciais: o quanto a vulnerabilidade coletiva pode ser usada como pretexto para ações ilegais. Ainda que parte da população de Duque de Caxias enfrente dificuldades econômicas reais, a justificativa do “estado de necessidade” não encontra respaldo jurídico diante da organização e violência vistas nos saques.
Para especialistas em segurança pública, o cenário evidencia um colapso momentâneo do pacto social, em que o senso de urgência se mistura com o oportunismo. A ausência de uma resposta rápida e firme pode estimular outros episódios semelhantes em locais com fragilidades estruturais.
Um alerta que precisa virar ação concreta
O incêndio no atacadão de Duque de Caxias não é apenas um caso isolado: ele levanta debates sobre segurança, desigualdade, prevenção de desastres e crise urbana. Autoridades locais prometem revisar protocolos de emergência, aumentar a vigilância em centros comerciais e reforçar a educação cidadã para que situações de risco não terminem em ruptura social.
Enquanto isso, as cinzas do que era uma loja cheia de vida e movimento agora se tornam símbolo de um ponto de inflexão. Resta saber se as ações futuras conseguirão responder à altura do que se viu naquele domingo — e se a cidade será capaz de reconstruir não só a estrutura física, mas também os vínculos comunitários abalados.