Em Carapicuíba, na região metropolitana de São Paulo, um canil clandestino foi alvo de uma operação que resultou no resgate de 58 cães da raça Pastor de Shetland. A ação revelou um cenário de maus-tratos severos, onde os animais sobreviviam em ambientes degradados, sem acesso a água potável, comida ou qualquer tipo de cuidado veterinário. Em meio a fezes acumuladas, caixas deterioradas e cheiro forte de urina, o silêncio dos latidos abafados finalmente encontrou voz.
As imagens do local chocaram até os agentes mais experientes. Segundo relatos, havia medicamentos vencidos, rações impróprias para consumo e até cachorros enterrados no terreno, sugerindo uma rotina de negligência e morte silenciosa. O responsável foi preso em flagrante e deve responder por crimes ambientais e maus-tratos, conforme prevê a legislação brasileira.
O alerta que partiu da vizinhança
O resgate aconteceu graças à denúncia de moradores do bairro Parque Santa Tereza, que passaram meses observando movimentações estranhas no local. Latidos incessantes, forte odor e o aparecimento de insetos atraíram a atenção da vizinhança, que acionou autoridades e ONGs de proteção animal.
A resposta foi rápida. Em parceria com o Instituto Caramelo, organização voltada ao acolhimento e reabilitação de animais vítimas de crueldade, a Polícia Civil e a Guarda Ambiental realizaram uma ação conjunta. O cenário que encontraram foi descrito como um dos mais cruéis já registrados na região.
Cães em estado crítico e sinais de longa negligência
Ao chegarem ao imóvel, os agentes encontraram cães em diferentes estágios de desnutrição e desidratação, com pelagens opacas, lesões de pele e olhos inflamados. Muitos estavam confinados em espaços pequenos, sem ventilação, luz ou limpeza. Nenhum dos 58 cães havia sido vacinado ou vermifugado.
Veterinários relataram que alguns animais apresentavam sinais de doenças infecciosas e transtornos comportamentais associados a estresse extremo e confinamento prolongado. Também foram descobertos indícios de reprodução forçada e abandono de filhotes que não sobreviveram, o que levou os investigadores a crer que o canil funcionava como criadouro ilegal.
Reação imediata e cuidado emergencial
Todos os cães foram retirados do local e levados para clínicas e lares temporários vinculados ao Instituto Caramelo. Eles agora passam por um processo de reabilitação física e emocional, com cuidados veterinários, nutrição adequada e acompanhamento psicológico canino.
A ONG informou que os animais serão colocados para adoção responsável após passarem pelos protocolos de vacinação, castração e socialização. Interessados deverão passar por entrevista e comprovar capacidade de oferecer um lar seguro e afetuoso.
Enquanto isso, o responsável pelo canil permanece detido e deve responder por crime de maus-tratos com agravantes, já que o número de vítimas é elevado e há evidências de reincidência.
O retrato de um problema maior
Embora o caso em Carapicuíba tenha ganhado destaque, especialistas lembram que o comércio clandestino de cães é uma realidade alarmante em várias regiões do Brasil. A ausência de fiscalização efetiva, somada à demanda por raças específicas, impulsiona criadouros ilegais que operam longe dos olhos da lei e à margem da empatia.
A venda de filhotes de Pastor de Shetland, por exemplo, pode ultrapassar valores de quatro mil reais. O lucro fácil muitas vezes sobrepõe o cuidado ético com os animais, que são tratados como mercadoria descartável.
ONGs e protetores independentes reforçam a importância de adoção consciente e da denúncia de qualquer atividade suspeita relacionada à criação ou venda de animais domésticos.
De vítimas a sobreviventes: um recomeço possível
Apesar do sofrimento que enfrentaram, os 58 cães agora têm uma nova chance. Cada um deles carrega em seus corpos marcas do abandono, mas também carrega a esperança de um futuro melhor, cercado por cuidados e afeto.
Histórias como essa mostram que o ativismo comunitário, aliado à ação legal e ao trabalho das ONGs, pode transformar realidades. Mais do que resgatar animais, é possível resgatar a sensibilidade e a responsabilidade que a sociedade precisa ter com todos os seres vivos.
O caso de Carapicuíba não é apenas sobre um canil clandestino. É sobre o direito à vida, à dignidade e ao cuidado — valores que não podem ser seletivos, nem adiados.