Um estudo feito em Harvard e apresentado no Congresso da Sociedade Americana de Pediatria revelou que a vacinação contra a Covid-19 em gestantes oferece benefícios que vão além da proteção contra o vírus. Além de reduzir em 58% o risco de infecção, a imunização também está associada a uma queda significativa em complicações obstétricas e neonatais.
De acordo com a análise, mulheres vacinadas tiveram:
-
34% menos partos prematuros antes de 28 semanas de gestação;
-
25% menos casos de natimortos;
-
17% menos anomalias congênitas;
-
9% menos internações em UTI neonatal.
O estudo
A pesquisa foi conduzida por Nikan Zargarzadeh, da Universidade de Harvard e do Hospital Infantil de Boston, nos Estados Unidos.
Trata-se de um estudo do tipo guarda-chuva, considerado um dos mais robustos em termos de confiança científica. Ao todo, foram analisados mais de 200 estudos primários realizados entre 2021 e 2023, reunindo dados de 1,2 milhão de gestantes.
Especialistas alertam sobre riscos na gestação
A médica Susana Fialho, presidente da Comissão Nacional de Vacinas da Febrasgo, destacou a importância da proteção neste grupo:
“A gestante tem alterações fisiológicas em vários sistemas. Por exemplo, há uma modulação do sistema imune para permitir a tolerância ao feto, e essa adaptação faz com que infecções sejam mais graves. (…) Por conta dessas alterações, ela é um grupo de risco para a Covid-19 e deve se vacinar.”
Segundo ela, desde o início da pandemia já se sabe que a Covid-19 aumenta o risco de internações, partos prematuros e mortes maternas.
Cobertura vacinal no Brasil segue baixa
Apesar das evidências científicas, a cobertura vacinal contra a Covid-19 entre gestantes no Brasil segue abaixo do ideal.
Dados do Ministério da Saúde apontam que, em 2024, foram aplicadas apenas 191 mil doses nesse público, número que representa menos de 10% das cerca de 2,3 milhões doses aplicadas em 2023.
No total, o governo distribuiu 20,1 milhões de vacinas neste ano para todos os grupos elegíveis, mas apenas 6,8 milhões foram aplicadas até o momento.

Proteção também para os bebês
O pediatra e diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações, Juarez Cunha, reforçou que a vacinação das gestantes também protege os recém-nascidos:
“Dados do Ministério da Saúde até 20 de setembro mostram que nós tivemos 1.125 óbitos por Covid-19 este ano no Brasil, sendo 39 em crianças menores de 2 anos. (…) O bebê não pode ser vacinado antes dos 6 meses. Então, a forma de protegê-lo é vacinar a mãe na gestação, que vai fabricar anticorpos e proteger o nenê também.”
Papel dos profissionais de saúde
Tanto Susana Fialho quanto Juarez Cunha enfatizam a importância da orientação médica para aumentar a adesão.
“Estudos mostram que, quando o profissional recomenda a vacinação e o paciente já estava com a ideia de se vacinar, a taxa de sucesso chega a 90%.
Agora, se o profissional de saúde contraindica ou coloca dúvida, mesmo que a paciente estivesse pensando em se vacinar, ela não se vacina”, explica Cunha.
“Uma das principais causas de hesitação vacinal é a falta de informação ou a informação incorreta. (…) Temos o objetivo de levar informações de qualidade científica para os nossos ginecologistas e obstetras, para que eles possam passar isso de uma forma bem tranquila para as pacientes”, completa Susana.