Uma série de protestos liderados pela Geração Z contra o governo de Dina Boluarte ganhou força nas últimas semanas no Peru. As manifestações, que começaram em 20 de setembro, resultaram em confrontos com a polícia na capital Lima, deixando dezenas de feridos.
De acordo com a Coordenação Nacional de Direitos Humanos, apenas no último sábado (27), ao menos 18 pessoas ficaram feridas após choques com a tropa de choque, quando manifestantes avançaram em direção às ruas próximas ao Congresso.
Motivações: previdência, corrupção e insegurança
O estopim foi a proposta de reforma da previdência, que prevê a obrigatoriedade de todos os peruanos acima de 18 anos aderirem a um provedor de pensão. No entanto, o movimento também reflete um descontentamento de longa data com casos de corrupção, aumento da criminalidade e a atuação do Congresso.
Outro ponto de revolta é a falta de responsabilização pelas dezenas de mortes em protestos ocorridos em 2022, quando Boluarte assumiu a presidência após a destituição de Pedro Castillo.
Um relatório recente do Instituto de Estudos Peruanos revelou índices de aprovação extremamente baixos: apenas 2,5% para Boluarte e 3% para o Congresso.
A força da Geração Z nas ruas
Os protestos são organizados, em grande parte, por jovens entre 16 e 30 anos. O Instituto Nacional de Estatística do Peru (INE) aponta que 27% da população está nessa faixa etária.
Símbolos da cultura pop também marcam presença nos atos. Uma caveira com chapéu de palha, referência ao mangá ‘One Piece’, tornou-se ícone das manifestações.
“O personagem principal, Luffy, viaja de cidade em cidade libertando as pessoas de governantes tirânicos e corruptos em cidades de escravos.
Isso representa o que está acontecendo em vários países. E é isso que está acontecendo agora no Peru”, disse o manifestante Leonardo Muñoz.
Outros jovens expressaram indignação:
“Estamos cansados de normalizar isso. Desde quando normalizamos a morte, desde quando normalizamos a corrupção, a extorsão?”, questionou Santiago Zapata, estudante.
“Minha geração está indo às ruas agora porque estamos cansados de ser silenciados, de viver com medo, quando o governo que elegemos é que deveria temer a nós.”

Impactos econômicos e cenário internacional
A crise política também afeta a economia. A Hudbay Minerals anunciou a suspensão temporária das operações de sua usina no Peru devido à onda de protestos. O país é o terceiro maior produtor mundial de cobre, além de ser relevante na produção de ouro e prata.
Especialistas destacam que as manifestações refletem não apenas questões internas, mas um contexto global de pressão sobre as democracias.
“Existe um nível baixo, mas constante, de descontentamento no Peru, e isso já acontece há bastante tempo”, afirmou Jo-Marie Burt, professora visitante da Universidade de Princeton.
Segundo ela, o cenário lembra o período de Alberto Fujimori, na década de 1990, quando houve o enfraquecimento de instituições democráticas.
“Forças democráticas, mesmo quando há quase controle total por sistemas autoritários, podem se mobilizar e agir de maneiras inesperadas que geram resultados positivos”, acrescentou.
Contexto global e futuro incerto
Os protestos no Peru se somam a movimentos semelhantes ocorridos em países como Indonésia e Nepal, protagonizados pela juventude.
Para Burt, a continuidade e a força das manifestações serão decisivas para determinar se haverá mudanças no cenário político. “A ópera ainda não terminou”, concluiu.
Confira imagens dos protestos em Lima, no Peru: