A China interrompeu as compras de soja dos Estados Unidos, abrindo espaço para o Brasil consolidar-se como principal fornecedor do grão ao maior importador mundial. O alerta vem da American Farm Bureau Federation (AFBF), entidade agrícola que representa cerca de 6 milhões de produtores norte-americanos.
Redução drástica nas exportações dos EUA
Segundo relatório da instituição, o volume de soja exportado dos EUA para a China caiu quase 78% entre janeiro e agosto deste ano, em comparação com o mesmo período de 2024. O declínio ocorre em meio à escalada da guerra tarifária entre as duas maiores economias do planeta.
Após sucessivas rodadas de negociações, Pequim impôs tarifas de aproximadamente 20% sobre o produto norte-americano. O documento, assinado pela economista Faith Parum, destaca:
“Durante junho, julho e agosto, os EUA praticamente não enviaram soja para a China e a China não comprou nenhuma soja da nova safra para o próximo ano comercial.”

Brasil ganha destaque no mercado global
Apesar da queda nas compras da soja dos EUA, o consumo chinês não diminuiu. O relatório ressalta que a China substituiu os grãos norte-americanos pelos de outros países, com o Brasil desempenhando papel central nessa reconfiguração.
“Mesmo quando os agricultores americanos produzem safras com preços competitivos, a China tem reduzido constantemente sua dependência dos Estados Unidos, voltando-se para o Brasil, a Argentina e outros fornecedores”, aponta o texto.
Ainda segundo a AFBF, as importações chinesas de soja atingiram níveis recordes, mas a maior parte da demanda está sendo suprida por concorrentes sul-americanos.

Impacto econômico nos produtores norte-americanos
A soja é apenas um exemplo do impacto das tensões comerciais entre os dois países. A AFBF estima que as exportações agrícolas dos EUA para a China somarão US$ 17 bilhões em 2025, uma queda de 30% em relação a 2024 e mais de 50% comparado a 2022.
A projeção para 2026 é ainda mais pessimista, com expectativa de apenas US$ 9 bilhões, o menor nível desde 2018.
O relatório acrescenta:
“Os efeitos em cascata das tensões comerciais estão se refletindo nos mercados agrícolas. A ampla oferta global e a demanda de exportação mais fraca estão pesando fortemente sobre os preços do milho, da soja e do trigo dos EUA, reduzindo as receitas agrícolas, apesar das fortes colheitas.”
Governo dos EUA prepara pacote bilionário
Diante do cenário adverso, o governo norte-americano prepara um pacote de ajuda de até US$ 15 bilhões para o setor agrícola, segundo fontes citadas pela ‘CNN’.
As falências de fazendas atingiram o nível mais alto desde 2021, acendendo o alerta em Washington.
A Casa Branca reconhece a gravidade da situação e, de acordo com autoridades ouvidas pela emissora, Donald Trump determinou a criação urgente de medidas de apoio aos produtores.
Nos últimos meses, foram realizadas reuniões interagências com os Departamentos de Agricultura e Tesouro para definir a melhor estratégia de recuperação.