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Pesquisa brasileira avança em exame de sangue para detectar Alzheimer

Pesquisa da UFRGS identifica a proteína p-tau217 como biomarcador-chave e abre caminho para diagnóstico precoce e acessível na rede pública de saúde

Pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) avançaram de forma significativa na busca por um exame de sangue capaz de detectar o Alzheimer em estágios iniciais.

Dois estudos, com participação de cientistas brasileiros e apoio do Instituto Serrapilheira, apontam a proteína p-tau217 como o biomarcador mais promissor para diferenciar indivíduos saudáveis de pacientes com a doença com alta precisão.

Um dos trabalhos avaliou biomarcadores no sangue e no líquor de pacientes atendidos em clínicas de memória no Brasil — uma amostra que se destacou por incluir populações de baixa escolaridade, frequentemente ausentes em pesquisas internacionais.

Desempenho comparável ao “padrão ouro”

O estudo, liderado pelos cientistas Wyllians Borelli e Eduardo Zimmer, revelou que o p-tau217 plasmático apresentou desempenho superior a 90%, resultado comparável ao exame de líquor, considerado o “padrão ouro” pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Foram analisados 59 pacientes no total.

Além do biomarcador, os pesquisadores também identificaram uma ligação entre baixa escolaridade e maior progressão da doença, reforçando a influência dos fatores socioeconômicos e educacionais no envelhecimento cerebral.

“Exames de sangue para Alzheimer podem aumentar significativamente a precisão do diagnóstico e permitir a detecção em fases pré-demenciais, de forma mais acessível e com custos muito menores do que exames como o PET Scan”, explica Borelli, pesquisador de pós-doutorado da UFRGS.

Revisão internacional reforça resultados

Os achados brasileiros ganharam força com uma revisão internacional publicada na revista ‘Lancet Neurology’, em setembro deste ano. O levantamento analisou mais de 110 estudos com cerca de 30 mil participantes e confirmou o p-tau217 como o biomarcador mais eficaz para detectar o Alzheimer.

O trabalho teve 23 autores, sendo oito brasileiros, entre eles Zimmer e Wagner Brum, doutorando da UFRGS.

“Essa foi a revisão mais abrangente já feita sobre exames de sangue para Alzheimer. Entre todos os candidatos, o p-tau217 se destacou pela capacidade de identificar alterações cerebrais típicas da doença”, afirma Brum.

Caminho para o SUS

Com os resultados positivos, os cientistas acreditam que o exame de sangue poderá ser incorporado ao Sistema Único de Saúde (SUS), tornando o diagnóstico precoce mais acessível.

“Os resultados abrem caminho para que exames de ponta em neurociência cheguem ao Sistema Único de Saúde (SUS), democratizando o acesso ao diagnóstico precoce e transformando a vida de milhares de brasileiros”, afirma Zimmer.

A previsão é que os testes em larga escala comecem em 2025, com resultados esperados em até dois anos.

Alzheimer: desafio crescente de saúde pública

O diagnóstico precoce é fundamental para o tratamento e acompanhamento de pacientes com Alzheimer. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 57 milhões de pessoas vivem com algum tipo de demência no mundo, 60% dos casos são de Alzheimer.

No Brasil, o Relatório Nacional sobre Demência (2024) estima que 1,8 milhão de pessoas convivem com a doença, número que pode triplicar até 2050.

Maysa Vilela

Jornalista curiosa por natureza, com mais de 10 anos de estrada, movida por conexões fortes, viagens e boas histórias. Acredita que ouvir é o primeiro passo pra escrever com propósito. No Ocorre News, segue conectando pessoas através das palavras.

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